Logo O POVO+
Computador: poder ou submissão
Opinião

Computador: poder ou submissão

Edição Impressa
Tipo Notícia

Primavera árabe, movimentos políticos brasileiros desde 2013 organizados a partir da internet, ódios acirrados nas redes sociais durante o impeachment, uso do meio digital nas campanhas eleitorais americanas de 2016, fakenews, autorização para o impulsionamento de propaganda eleitoral nas eleições de 2018 no Brasil exemplificam como a democracia se redimensiona no ciberespaço. 


O ambiente digital é cenário no qual o humano realiza suas relações. Privá-lo desse espaço representa nova forma de exclusão social, motivo pelo qual a inclusão digital tornou-se relevante pauta política. Incluir, porém, não significa entregar um instrumento para manuseio. Seria como ensinar a usar uma arma, sem o alerta para seus perigos. Se cada computador pode representar novo centro de poder, também pode irradiar novas formas de sujeição.
 

Ter um computador sem o conhecimento do poder que carrega, transforma usuários em meros consumidores de produtos e informação, deixando passar a oportunidade de integrar o mundo como transformador. A inclusão, portanto, demanda educação, para desenvolver a percepção do poder.
 

Mas não só. A democracia não se faz com qualquer forma de debate. A liberdade de decidir perpassa o conhecimento sobre o que se decide e a atenção a pontos de vista diversos. É comum pessoas fazerem postagens categóricas em mídias sociais e acharem que realizam papel democrático, quando apenas destilam rancores. Tais postagens podem trazer conforto psicológico a quem despeja seus pensamentos, mas não necessariamente terão cunho democrático, até porque, não raro, encobrem grandes questões em colocações superficiais. Discursos democráticos são feitos com deliberação e discussão, para só então levarem a decisões.
 

Paralelamente, estudos revelam a tendência das redes a reunirem indivíduos em bolhas de semelhança, levando os defensores de determinado modo de pensar a receberem postagens pelas quais já simpatizam, caminhando-se para extremismos. É preciso desenvolver a habilidade de dar voz à diversidade, e de se posicionar após ouvir contrários. Não há democracia sem pluralismo.
 

Importa abrir o espírito para o diálogo, buscar fontes seguras de informação, desenvolver o senso crítico e repassar o que se considera confiável. No rápido fluxo dos dados, mais bem se posiciona aquele que os domina e se coloca como agente transformador do universo ao redor. É com esse posicionamento mínimo que devemos estar preparados para as eleições que se avizinham.

 

Raquel Machado
raquel101@uol.com.br
Advogada e professora da UFC

O que você achou desse conteúdo?