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Marcus Vale: A Doença de Alzheimer e a música
Opinião

Marcus Vale: A Doença de Alzheimer e a música

Seus olhos brilharam, seu corpo se agitou e ele tentou se comunicar e cantar a música que tocava
Edição Impressa
Tipo Notícia
Há dois anos, mais ou menos, assisti a um vídeo publicado em uma rede social que muito me emocionou. Ele mostrava um idoso sentado e imóvel numa cadeira, com um olhar distante e imune a qualquer estímulo visual ou auditivo do ambiente. Tinha a Doença de Alzheimer em estado avançado. Seu cuidador ou parente pôs nos seus ouvidos uns fones que tocavam músicas que ele gostava nos seus tempos de boa saúde. A reação foi imediata e bem explícita. Seus olhos brilharam, seu corpo se agitou e ele tentou desesperadamente se comunicar e cantar a música que tocava. Até chorou. A música realizou aquele milagre que foi muito comemorado pela família.

 

A Doença de Alzheimer (nome adotado em honra do médico Alois Alzheimer – seu descobridor) tem como maioria das vítimas pessoas idosas e se apresenta como demência (perda de funções cognitivas - memória, orientação, atenção e linguagem), causada pela morte de células cerebrais. É uma doença incurável que se agrava ao longo do tempo, mas é possível inibir seu avanço se diagnosticada prematuramente.


Recentemente, sugeri a alguns de meus parentes experimentar o uso da música em um membro da família portador de Alzheimer. Eles acataram a sugestão. O relato que me fizeram da reação do paciente após usar os fones de ouvido com as suas músicas preferidas foi a mesma descrita acima, isto é, excitação e emoção explícitas, choro e tentativa de falar ou cantar as canções em execução.


Realmente, a ciência vem mostrando que as memórias musicais são armazenadas na região média do cérebro, conhecida como giro cingulado anterior, e no lobo frontal, na área motora pré-suplementar. Os outros tipos de memória são armazenados em regiões diferentes e bem específicas daquelas da música.


Não se sabe bem por quê, mas a doença não ataca as regiões da memória musical que ficam bem preservadas quando comparadas com a devastação das regiões de memória como um todo. Assim, a música pode vir a se tornar uma das poucas armas que os terapeutas têm para, talvez, inibir a progressão da Doença de Alzheimer. Se esse fenômeno se caracterizar como uma das formas de tratamento ou pelo menos uma forma de integrar o paciente ao meio familiar, já será um grande avanço, pois trata-se de método barato e fácil de ser aplicado. Sugiro às pessoas que possuem parentes ou amigos com Alzheimer a experimentarem essa técnica e boa sorte. 

 

Marcus Vale

valemarcus@yahoo.com

Diretor da Seara da Ciência e professor da UFC

 

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