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Editorial. Hipertrofia militar na segurança
Opinião

Editorial. Hipertrofia militar na segurança

A continuar assim, a própria democracia terá de pagar um alto tributo por essa deformação
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Hoje é o primeiro dia útil do novo ano e a volta à rotina depois de todos os festejos iniciados desde o Natal. Os desafios são inúmeros, alguns mais ampliados. Sobretudo, os que dizem respeito à segurança e a consistência do tecido social. Passada a beleza dos fogos de artifício e dissipada sua fumaça, volta-se à visão real do entorno. Desta vez, Fortaleza teve menos motivos de queixas e certamente se condoeu da vizinha Natal, no Rio Grande do Norte, onde viu repetir-se um pesadelo que os fortalezenses viveram anos atrás: a presença de forças militares especiais para garantir a passagem de ano.


Pausas festivas são necessárias para reequilibrar a psique humana e revigorar as energias físicas. Assim a volta ao batente dá-se em novos patamares, nas várias dimensões da vida – social, profissional, pessoal e familiar. A primeira inquietação neste início do ano novo foi revelada por uma matéria do jornal O Estado de São Paulo, tomando como referência a crise da segurança pública entre os potiguares. Ao longo dos últimos 25 anos, o emprego das Forças Armadas brasileiras no combate ao crime organizado nos estados cresceu três vezes.


Ao todo foram 181 ações do Exército, Marinha e Aeronáutica. A maioria das operações está relacionada à Garantia da Lei e da Ordem (GLO). O Exército tem tido atribuições até de revistar presídios. Algo está muito errado nisso, como desabafou o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, no Twitter. “Preocupa-me o constante emprego do Exército em ‘intervenções’ (GLO) nos Estados. Só no Rio Grande do Norte, as Forças Armadas já foram usadas três vezes, em 18 meses”.


De fato, as Forças Armadas não têm como atribuição o papel de polícia, pois não recebem formação para isso. Os compromissos que as norteiam são os da defesa da pátria contra inimigos externos. Trata-se de um combate que exige outro tipo de treinamento, logística, operacionalidade e filosofia. Evidentemente, numa situação extrema, não podem negar-se a atuar como Polícia, mas, isso deve ser uma excepcionalidade, não, uma rotina, como vem acontecendo. A continuar assim, a própria democracia terá de pagar um alto tributo por essa deformação, como temem especialistas. Colocar o problema no primeiro dia do ano é um bom começo para tentar a solução o quanto antes.


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