Logo O POVO+
Editorial. Coletivos culturais: anticorpos sociais
Opinião

Editorial. Coletivos culturais: anticorpos sociais

Edição Impressa
Tipo Notícia

A violência do crime organizado, que se ramifica por todo País, tem incidido sobre o Ceará de forma agudamente virulenta e trágica – como já aconteceu e acontece – em outras unidades da Federação. Como a parte contém o todo (União), e isso inclui seus males, o Ceará cobra cooperação das demais instâncias de poder (federal e municipal) de acordo com a hierarquia de responsabilidades. Nenhuma iniciativa, contudo, tem consistência sem se mobilizar a própria sociedade civil e, sobretudo, apoiar as trilhas abertas por esta a partir de sua realidade cultural e social, pois o simples aparelho repressor não dá conta do desafio.


Claro, a ação policial tecnicamente eficiente - e dentro dos marcos do Estado de Direito -, é a resposta mais imediata para conter a ação criminosa e não lhe dar folga, desarticulando-a incessantemente. Mas, para vencê-la ou levá-la a um estágio apenas residual é preciso alimentar anticorpos no próprio organismo social.

Isso se dá por meio de políticas públicas socialmente inclusivas, a começar pelas destinadas à juventude, particularmente, aos jovens das periferias para que encontrem nas suas comunidades os instrumentos que permitam agregá-los à Cidade como um todo, para que não se vejam (nem sejam vistos) como intrusos.
 

Vê-se que é possível desde que tenham acesso universal aos serviços e aos equipamentos culturais públicos e passem a sentir a Cidade como sua, começando pelo resgate dos laços intra e intercomunitários.
 

Isso foi o que O POVO mostrou, ontem, em suas páginas ao focar o Coletivo Natora (@coletivonatora), onde jovens e crianças das comunidades do Pirambu e Carlito Pamplona agregam-se para realizar atividades culturais, como exibições gratuitas de filmes, no Cine Natora, oficinas de teatro, poesia e criação, além do popular sarau Natorarte, que convida jovens de outros bairros para apresentações de teatro, música e dança, permitindo uma socialização que neutraliza os bairrismos e os enfeudamentos faccionais.
 

Também debatem democracia, cidadania, machismo, racismo, homofobia, educação ambiental, economia criativa e representatividade. Há também coletivos dedicados à expressão afro-brasileira no mercado, como o de moda: é o caso da Rede Kilofé (@redekilofe).
 

Ou seja, comunidades das periferias vêm procurando criar anticorpos adequados para resistir à desagregação social e ao cerco do crime organizado. Não basta a repressão. É preciso apoiá-las com as políticas públicas requeridas, em consonância com a exigência constitucional de se extirpar as desigualdades sociais. O mesmo se diga da participação direta dos cidadãos no poder local. Sem ambas iniciativas será difícil para o Brasil enfrentar os desafios a que é chamado. 

O que você achou desse conteúdo?