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Editorial. Banco Mundial: manipulação política
Opinião

Editorial. Banco Mundial: manipulação política

Isso significa uma interferência indevida e inaceitável na autodeterminação de uma dada sociedade
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No momento em que as atenções do mundo estão voltadas para a viagem que o papa Francisco está fazendo ao Chile, um escândalo - tendo como referência o mesmo país - ganha as manchetes mundiais. O “The Wall Street Journal” acaba de publicar que o Banco Mundial alterou dados sobre o ranking de competitividade da economia chilena com o intuito de prejudicar a imagem do governo da presidente socialista Michelle Bachelet. A manipulação prejudicou tanto o primeiro mandato (2006-2010), como o segundo (2014-2018). Ao mesmo tempo, beneficiou o governo de seu adversário, Sebastián Piñera (2010-2014), que agora volta ao poder.


A manipulação causou protestos por parte da presidente que encerra seu mandato em março: “Muito preocupante o que ocorreu com o ranking de competitividade do Banco Mundial. Além do impacto negativo da posição do Chile, a alteração prejudica a credibilidade de uma instituição que deve contar com a confiança da comunidade internacional”- denunciou. A mandatária pediu formalmente uma investigação completa do ocorrido, lembrando que esse tipo de operação impacta o investimento e o desenvolvimento dos países.


De fato, o Banco Mundial terminou confessando que manipulou os dados “por motivações políticas”, segundo as palavras do economista-chefe da instituição, Paul Romer, ao “The Wall Street”. Em seguida, pediu desculpas. Tudo bem. Contudo, um gesto simbólico, mesmo civilizado, não reverte o fato de que a manipulação influenciou o processo de decisão dos cidadãos a respeito do destino a ser dado ao país, em cada momento, a partir de elementos comparativos fundamentais, como os relativos à economia. Isso significa uma interferência indevida e inaceitável na autodeterminação de uma dada sociedade.


Três lições fundamentais devem ser tiradas do episódio. A primeira: necessidade de ampliar os controles sobre os mecanismos decisórios do Banco Mundial, de modo a dar-lhes a maior transparência possível; a segunda: adoção insofismável de critérios eminentes técnicos, independentemente de se concordar, ou não, com a coloração político-ideológica do governo em foco; a terceira: zelo pela soberania. Cada país sempre deve fazer triagem rigorosa de números e diretrizes de organismos multilaterais para detectar eventuais manipulações.


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