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Paulo Henrique Martins: "Intenções ocultas do tal mercado neoliberal"
Opinião

Paulo Henrique Martins: "Intenções ocultas do tal mercado neoliberal"

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A posição do tal mercado é clara: ou se fazem as reformas para enxugamento do Estado mesmo que às custas do bem-estar social ou os juros sobem, o dinheiro vai embora e se instala o caos. Esta ameaça anula a política e deixa a sociedade sem alternativas. A democracia fica amordaçada por uma espada de Dâmocles prestes a cair na cabeça. Mas esta ameaça é apenas uma estratégia de manipulação com vistas a assegurar o avanço do capitalismo financeiro. Se entendemos J. Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia, este tipo de afirmativa é um dispositivo ideológico a favor do fundamentalismo do “livre-mercado”.


Para outro economista famoso, T. Piketty, o capitalismo de mercado está contribuindo para a concentração de renda e as distâncias entre ricos e pobres. Pesquisas recentes confirmam esta tendência. Os dois famosos economistas entendem que a saída somente pode ser conseguida com políticas públicas que promovam investimentos e taxem os mais ricos. Conclusão: o tal mercado de liberal não tem nada. O liberalismo valorizava com mesmo peso a liberdade e o igualitarismo. A liberdade de empreendimento, de expressão e de mobilização; a igualdade de todos para usufruírem de suas liberdades respeitando suas diferenças.


O neoliberalismo, ao contrário, apenas busca liberar os interesses de uma das partes, os agentes financeiros e rentistas. Não há preocupação com os danos sociais. Se o tal mercado não é liberal, o que ele é? No meu entender, estamos vivendo a emergência de um novo tipo de totalitarismo centrado não no Estado, como na versão clássica, mas num sistema de poder transnacional, ancorado nas finanças especulativas. Desorganizar os sistemas de poder periféricos é meta central. É importante observar que as sociedades que estão atravessando a crise são aquelas que preservam o poder do Estado na regulação da economia e da sociedade como são exemplos os países centrais como Estados Unidos, Alemanha, França e Japão, os sociais-democratas da Escandinávia e, na versão autoritária, a China e da Rússia. Ainda podemos lembrar a versão andina do estado plurinacional da Bolívia.


Neste contexto, as teses neoliberais de desmanche do estado visam apenas os países periféricos fornecedores de matéria-prima e de minerais, que possuem terras férteis, água doce e mercados consumidores atraentes. Por razões óbvias. Há que se valorizar uma frente nacional e democrática que resgate o lugar do Estado como planejador de ações coletivas e como dispositivo libertador de uma nação plural e participativa.

 

Paulo Henrique Martins

paulohenriquemar@gmail.com

Sociólogo e professor visitante do Departamento de Ciências Sociais da UFC

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