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Emanuel Freitas e Cleyton Monte: Tasso, "desistido"
Opinião

Emanuel Freitas e Cleyton Monte: Tasso, "desistido"

As disputas entre essas lideranças ocorriam nos bastidores. Ao embarcarem no governo Temer, a guerra se tornou pública
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Depois de presidir o PSDB em meio à crise envolvendo o senador mineiro Aécio Neves, o cearense Tasso Jereissati, capitalizando-se para presidir a agremiação tucana pelo próximo biênio, “desistiu” de sua candidatura, nos dizem os jornais, em nome na “paz” que a candidatura do paulista Geraldo Alckmin representaria. Mero eufemismo. Tasso, na verdade, foi “desistido” por seus correligionários. Vale lembrar que o PSDB se consolidou a partir de dois grupos políticos: o de Mário Covas, em São Paulo, e o de Tasso, no Ceará. Aécio e Minas Gerais ganham destaque somente nos anos 2000. As disputas entre essas lideranças ocorriam nos bastidores. Ao embarcarem no governo Temer, a guerra se tornou pública. Diante desse cenário, o embate entre Tasso e setores do PSDB revela muito sobre ambos.

 

Tal como em 2001, quando saiu-se perdedor na disputa interna com o paulista José Serra para ser o candidato tucano na eleição de 2002, novamente Tasso perde uma disputa interna para a “vontade paulista” que rege as relações em seu partido. Depois de dar salvo conduto a Aécio para permanecer senador da República em meio às denúncias do caso JBS, Tasso não soube explicar-se à opinião pública o fato de o mineiro poder continuar sendo senador, mas não “ter condições” de permanecer na presidência do PSDB. Soou como “oportunismo”. Apregoando razões para “sair do governo”, o senador cearense viu sua candidatura corroer-se por meio daqueles que têm razões para “continuar no governo”, pois dele precisam para salvar-se.


A participação de Tasso foi fundamental na articulação pró-impeachment de Dilma. Os jantares em sua casa ficaram famosos por reunir a cúpula do PSDB e do PMDB. Contudo, sua liderança passou a ser questionada a partir do momento que iniciou uma autocrítica pública do seu partido. Os deputados federais, oriundos principalmente do Sudeste, pediram sua cabeça. Tasso, que dias atrás teceu críticas ao governo de Camilo Santana por ser este um governo comandando por uma “oligarquia” (com a qual o próprio Tasso só rompeu em 2010), não conseguiu perceber que seu partido também o é, aquela que não ousa contrariar os interesses dos políticos paulistas.


Na verdade, Tasso e o PSDB continuam fazendo a mesma política centralizadora e oportunista. A diferença é que o senador cearense acumula seguidas derrotas. Resta-nos saber se o eleitorado acompanhará o cacique paulista ou desistirá do ninho tucano.  

 

Emanuel Freitas

emanuel.freitas@uece.br

Professor (Uece/Facedi); doutorando em Sociologia

 

Cleyton Monte

cleytonvmonte@gmail.com

Professor da Faculdade Cearense; doutor em Sociologia

 

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