A questão é, portanto, um nervo exposto, e foi justamente nele que o presidente dos Estados Unidos resolveu cutucar. A pronta resposta da comunidade internacional é sintomática. Para aliados e rivais, Trump cometeu uma temeridade que, no extremo, pode levar a uma nova onda de violência no Oriente Médio. Mesmo nações aliadas dos EUA criticaram a decisão. Caso de Turquia e Jordânia, que foram incisivas em suas reprimendas.
Comunicada ontem, a iniciativa de mudança da embaixada, aprovada pelo Congresso em 1995 mas sucessivamente adiada por antecessores de Trump, pode dificultar ainda mais as negociações de paz na região, notadamente entre judeus e palestinos, que reivindicam o território.
A seu favor, Trump alega tratar-se de promessa de campanha e que a mudança não interfere na busca por um acordo em torno da fixação de fronteiras e criação de um estado palestino, tampouco estabelece que a cidade passa a pleno controle de Israel.
De efeito prático duvidoso, já que a transferência da embaixada ainda levará tempo, o gesto de Trump tem como único corolário o esgarçamento das relações entre os dois povos e funciona como combustível para o discurso fundamentalista que anima grupos como Hamas e Estado Islâmico. Afinal, deve haver uma razão para que, das 86 embaixadas sediadas na região, todas estejam localizadas em Tel Aviv e nenhuma em Jerusalém.
O próprio Trump já havia postergado uma vez a mudança da embaixada, que precisa ser renovada a cada seis meses. Ocorre que o presidente, achando-se em dificuldades internamente, houve por bem atender agora o pleito de uma parcela significativa de seus eleitores evangélicos cristãos e de grupos judeus de direita, que constituem um terço da base de apoiadores dos republicanos. A intenção é melhorar seus indicadores de popularidade.
Em seu discurso de ontem, o magnata afirmou que é “tempo de paz e de um brilhante futuro para o Oriente Médio”. A depender de suas habilidades diplomáticas, porém, o único horizonte que se descortina para palestinos e judeus é o recrudescimento de conflitos que se arrastam há décadas, sem solução.