O Ceará vive a maior seca do registro histórico e o volume dos açudes cearenses está assustadoramente abaixo de 8% de sua capacidade. O Castanhão, principal reservatório, está a 3% e descendo. Mas não se pode atribuir a calamidade apenas à seca.
A política de recursos hídricos adotada é incompatível com a realidade do semiárido. Durante anos, a benesse foi para o agronegócio. Depois, para as indústrias do Pecém, como termelétricas e siderúrgica cujas outorgas de água somadas chegam a incríveis 218 milhões de litros por dia ou o consumo de água diário de quase 2 milhões de pessoas.
Enquanto milhares no interior vivem sob racionamento, dependem de carros-pipa e recebem água de má qualidade, o governo fornece água ininterruptamente para a indústria. Há uma violação explícita da legislação de recursos hídricos, que prevê prioridade para o abastecimento humano e, em caso de escassez, suspensão das outorgas sem indenização.
É irracional a manutenção desta política, contando com a sorte de uma estação chuvosa abundante ou apostando na exploração do Cauípe e dunas do entorno do Pecém, ou ainda na transposição do São Francisco, com obras atrasadas e sabendo que o próprio rio, explorado demais, está com vazões bem abaixo do normal.
É preciso desligar imediatamente as termelétricas e abandonar o projeto insustentável de uma refinaria.
Até porque além de consumirem água, elas emitem CO2 e sabemos que o aquecimento global traria secas mais severas em regiões semiáridas.
“Precisamos de empregos” ou “precisamos dessa energia” é o discurso oficial. Mas pondo na balança, os empregos subtraídos na pesca, agricultura, pequeno turismo e comércio superam os empregos gerados por essas indústrias, que são inferiores inclusive aos que surgiriam se investíssemos em energia solar, por exemplo.
O momento demanda coragem e responsabilidade. Afinal, com quem o governo cearense tem compromisso? Com grandes grupos econômicos ou com a população do Estado?
Alexandre Araújo Costa
alexandrearaujoc@gmail.com