A lembrança de Lendo Lolita em Teerã chegou-me hoje cedinho enquanto era informada de dois livros infantis retirados de circulação no Brasil após pressão de grupos de direita e esquerda. Peppa, de Silvana Rando, é uma deles. Conta a história de uma menina que tinha cabelos crespos e volumosos que decide alisá-los, mas, quando isso acontece, não pode mais entrar na piscina, brincar e por aí vai. A autora foi tachada de racista e o livro julgado inadequado para crianças. O outro, Enquanto o sono não vem, de José Mauro Brant, faz uma releitura de contos medievais. O livro foi acusado de pedófilo e recolhido das escolas.
O Brasil é um país de paradoxos. Enquanto grupos de direita e esquerda usam e abusam das mídias sociais para condenar livros e autores, exposições e artistas, um dos mais graves problemas desta Nação, é justamente a não leitura. E a minha maior preocupação hoje é com o estado de interdição que paira sobre as nossas cabeças. A leitura e os livros são a prática social e os objetos mais lembrados pelos tiranos.
A revolução chinesa queimou milhões de livros em praças públicas e incentivava seus cidadãos a fizerem o mesmo. Na União Soviética, livros e autores foram classificados como inimigos do povo. Na Espanha de Franco, na Itália de Mussolini, no Portugal de Salazar, livros foram considerados um perigo e sua leitura, grave subversão. No Brasil dos militares, foi criado um robusto sistema de censura que alcançou livros, jornais, teatro, música. Fico perplexa com o tamanho da ignorância que defende o cerceamento das liberdades por meio desse frenesi histérico das redes.
Regina Ribeiro
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