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"Política de investimento socialmente vantajosa x lucratividade"
Opinião

"Política de investimento socialmente vantajosa x lucratividade"

Em 2004, os ativos totais eram de R$ 1,26 trilhão e alcançaram R$ 6,13 trilhões em 2014
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Coluna do O POVO (11/11), da minha amiga Neila Fontenele, faz a seguinte citação de Keynes (1883-1946): “Não há evidência clara a demonstrar que a política de investimento socialmente mais vantajosa coincida com a mais lucrativa”. Essa afirmativa contribui para fazermos uma reflexão sobre o caso brasileiro.

 

Entre 2003 e 2014, o Brasil viveu uma fase de progresso econômico e social em que mais de 29 milhões de pessoas saíram da pobreza (o coeficiente de Gini caiu no período, de 58,1 para 51,5). O nível de renda dos 40% mais pobres da população aumentou, em média, 7,1% entre 2003 e 2014, em comparação ao crescimento de renda de 4,4% observado na população geral. No entanto, desde 2015 o ritmo de redução da pobreza e da desigualdade parece ter estagnado.


No mesmo período, o setor bancário brasileiro, a partir de dados coletados no Banco Central, desde 2004, através das variáveis ativo total, depósito total e patrimônio líquido, tiveram crescimento acentuado. Em 2004, os ativos totais eram de R$ 1,26 trilhão e alcançaram

R$ 6,13 trilhões em 2014. O crescimento do patrimônio líquido dos bancos saiu de R$ 0,12 trilhão em 2004 para R$ 0,47 trilhão em 2014, o que gerou aumento superior a 386% no período. Os depósitos totais, em 2004, foram de R$ 0,55 trilhão e cresceram para R$ 1,85 trilhão em 2014.


Uma análise mais otimista feita pelo Banco sugere que a desigualdade e a pobreza aumentaram em 2016 e continuarão elevadas em 2017, com queda de 3,4% na atividade econômica entre 2015 e 2016 e um aumento de 0,5% entre 2016 e 2017, a estimativa é de que a desigualdade aumente e cerca de 2,5 milhões de pessoas sejam “empurradas” para a pobreza. A previsão é de aumento dos percentuais de pobreza, mais em áreas urbanas e menos em áreas rurais (onde os índices já são mais elevados). O que esta pesquisa traz de pior é que as pessoas que hoje são empurradas para a pobreza pela crise atual - os chamados “novos pobres” - tendem a ser ligeiramente mais jovens, qualificados, localizados em regiões metropolitanas e aglomerados urbanos.


A metodologia descrita permite calcular o ajuste marginal necessário no orçamento do Bolsa Família para ampliar a cobertura do programa para os “novos pobres”. Isso implicaria o aumento de R$ 1,82 bilhão no orçamento do programa - 6,9% com relação ao orçamento de 2015 - valor equivalente a menos de 10% do crescimento do patrimônio líquido dos bancos entre 2004-2014.


Refletindo Keynes: conseguiríamos reduzir a desigualdade social, mantendo concomitância de investimentos socialmente mais vantajosos coincidentes com vantagens lucrativas, como a financeira?

 

Alexandre Sobreira Cialdini

cialdinialexandre@gmail.com
Economista, professor e do Conselho de Leitores do O POVO

 

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