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Francisco Moreira Ribeiro: "Oligarquias cearenses"
Opinião

Francisco Moreira Ribeiro: "Oligarquias cearenses"

Reportando-se à filosofia grega, o termo ganha um significado eticamente negativo, de "governo de ricos"
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As oligarquias historicamente estão diretamente ligadas a existência do coronelismo como prática política típica dos primeiros anos da República Brasileira. Apontar a presença de práticas oligárquicas no presente necessita revermos o que mudou e o que permaneceu do passado clássico do coronelismo na atualidade. A atuação mais forte do Judiciário no processo eleitoral amenizou uma série de práticas comuns durantes as eleições, como favores e ameaças utilizados como instrumentos de retaliação ou violência física ou perseguição pessoal. Se hoje esses comportamentos tornaram exceção à regra, novas modelagens dão face a práticas, como a existência do voto mercadoria, que funcionam como garantia de permanência dos mesmos grupos políticos no poder. Fortalece, de um modo, o termo oligarquia no imaginário coletivo cearense.


O senso comum absorveu o argumento de algumas matérias jornalísticas e discursos de militantes políticos, que o definem como uma espécie de condutor, mandatário de grupos políticos. Neste sentido que foi tomado para enquadrar as figuras dos líderes políticos Tasso Ribeiro Jereissati e os irmãos Ferreira Gomes como oligarcas. Até que ponto essa concepção tem laços com a realidade e a definição científica?


Norberto Bobbio, em seu Dicionário de Política (2007), define o termo oligarquia a partir de vários pontos de vistas. Etimologicamente, o autor conceitua oligarquia como “governo de poucos”. Reportando-se à filosofia grega, o termo ganha um significado eticamente negativo, sendo chamado de “governo de ricos”. Segundo o pensador italiano, em uma oligarquia, [...] o poder supremo está nas mãos de um restrito grupo de pessoas pretensamente fechado, ligadas entre si por vínculo de sangue, de interesse ou outros, e que gozam de privilégios particulares, servindo-se de todos os meios que o poder pôs ao seu alcance para os conservar”.

(BOBBIO, 2007, p. 835).


Do ponto de vista conceitual, podemos afirmar a existência de traços oligárquicos que se manifestam nas práticas políticas nacionais e de forma específica nas cearenses, que apontam que a permanência de grupos e indivíduos no poder se devem a métodos e hábitos arraigados onde políticos de todos poderes se perpetuam em seus cargos, garantindo a hegemonia em benefício de seus confrades, obstaculizando o aparecimento de novas lideranças.


A troca de favores entre chefes de partido e a compra de votos são dois claros exemplos de como os poderes econômico e político ainda impedem a consolidação de princípios morais definidos nos processos eleitorais e na ação dos nossos representantes políticos. Mesmo com a modernização dos espaços urbanos o surgimento de novas lideranças socais, o coronelismo ainda é um traço forte em nossa política.

 

Francisco Moreira Ribeiro

chicomoreira@uol.com.br
Professor de Ciência Política do Centro de Ciências Jurídicas (CCJ) da Universidade de Fortaleza (Unifor)

 

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