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Regina Ribeiro: "Repare no atalho entre as crianças e os museus"
Opinião

Regina Ribeiro: "Repare no atalho entre as crianças e os museus"

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Os museus pautaram as mídias sociais e a imprensa tradicional de tal forma que a sensação era a de que esses locais fazem parte do cotidiano da maioria dos brasileiros. Engano. Uma pesquisa realizada, em 2016, pela Fecomércio do RJ e o Instituto Ipsos, envolvendo 72 municípios – entre eles, 8 capitais – mostra que apenas 11% dos entrevistados frequentam museus e exposições. Um levantamento feito em 2014, numa parceria entre a Fundação Perseu Abramo e o Sesc, ouvindo 2.400 pessoas de 25 estados, revela que 71% dos brasileiros nunca puseram o pé num museu e jamais viram uma exposição.


Importante situar o museu nas práticas culturais da Nação, uma vez que ele está na mira de alguns grupos que têm se esforçado em fazer crer que a infância está sob a perigosa ameaça de artistas e exposições. Equívoco. O maior problema da infância brasileira hoje não são os museus e, sim, a pobreza. Aqui entre nós, no Ceará, quase um terço das crianças está em situação precária, sem acesso aos bens mínimos. Dados da Fundação Abrinq, divulgados em março deste ano, revelam que 40% das crianças brasileiras estão em situação de pobreza que as impedem, por exemplo, de cursarem uma universidade no futuro caso a situação não mude.


Os que detratam artistas e museus pelas redes sociais bradam que estão defendendo a infância e, para isso, usam o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Mentira. Se vocês repararem no vídeo compartilhado por quase três milhões de pessoas em que uma criança aparece tocando o pé de um artista nu, há uma proteção sobre a genitália do artista, mas o rosto da criança está descoberto. Detalhe: a criança estava acompanhada pela mãe, que é uma coreógrafa. Os grupos de extrema-direita tiveram o cuidado de não expor a criança ou orientar as pessoas sobre isso?


Enfim, o tema da arte não é fácil. E pode se tornar impossível a partir do casamento entre a ignorância de muitos e a má-fé de alguns na construção de um discurso cuja única finalidade é a política eleitoral. Mas para quem quiser conhecer um pouco mais sobre o debate em torno da arte, aqui vão sugestões de leitura: Arte Contemporânea, de Anne Cauquelin; O que é arte, de Jorge Coli; e ainda Culturas e artes do pós-humano: da cultura das mídias à cibercultura, de Lucia Santaella.


Regina Ribeiro

reginah_ribeiro@yahoo.com.br
Jornalista do O POVO
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