São muitos os fatores que contribuem para isso, mas o consumo de alimentos ultraprocessados e o sedentarismo, sem dúvida, estão no topo do ranking. A tecnologia, as facilidades dos aparelhos para substituir o esforço humano, a rotina frenética de trabalho e a falta de motivação estão criando e reproduzindo crianças e adultos sedentários, que, em pouco tempo, poderão se tornar doentes. Em paralelo, a indústria alimentícia, com suas preparações ricas em sódio, gorduras trans e açúcares, de fácil acesso e baixo custo, cresceu assustadoramente. Lutar contra isso não é fácil.
A obesidade atinge as pessoas de diversas formas, muito além dos quilos a mais. Na minha rotina profissional, recebo pessoas que lutam há anos contra diabetes, hipertensão, alto colesterol, problemas gastrointestinais, dores na coluna e joelhos, além de transtornos psicológicos. Assim como a saúde, a sociedade não é tolerante com pessoas que estão obesas. Por isso, esse processo pode ser cansativo, desanimador, frustrante. E no caso de obesos mórbidos, quando os métodos tradicionais como dieta, exercícios e mudança de comportamento se mostram ineficazes em longo prazo, o processo é ainda mais complexo.
É justamente aí que a cirurgia bariátrica se insere. Para as pessoas com obesidade que experimentaram os métodos tradicionais sem êxito, a cirurgia bariátrica ou gastroplastia é uma opção eficaz, com perda de peso em percentual satisfatório para o controle da obesidade e desaparecimento das doenças associadas, como diabetes e hipertensão.
Mas a gastroplastia sozinha não faz milagre, é preciso muito comprometimento pessoal. Além disso, o acesso ao procedimento, de alta complexidade, ainda é muito reduzido. Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica apontam que, em 2016, foram realizadas cerca de 100 mil bariátricas em todo o País, sendo apenas 10% deles na rede pública. Por isso, um dos principais desafios do Brasil é tratar a obesidade como problema de saúde, com políticas públicas que consigam barrar o seu crescimento.
Assim como a saúde, a sociedade não é tolerante com pessoas que estão obesas. Por isso, esse processo pode ser cansativo, frustrante
Paulo Eduardo Campelo
drpaulo@institutoamo.com
Cirurgião geral e bariátrico do Instituto AMO; membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) e presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica (Sobracil-CE)