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Paulo Eduardo Campelo: "A obesidade muito além do peso"
Opinião

Paulo Eduardo Campelo: "A obesidade muito além do peso"

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O Brasil, que até pouco tempo lutava contra a desnutrição, tem o importante desafio de barrar o crescimento da obesidade. Dados do Ministério da Saúde (Vigitel 2016) revelam que a obesidade cresceu 60% em 10 anos, atingindo 11,8% dos brasileiros em 2006 para 18,9% em 2016. Já o excesso de peso, no mesmo período, cresceu 26,3%, passando de 42,6% em 2006 para 53,8% em 2016. Ou seja, mais da metade da população brasileira está acima do peso. A capital cearense não fica atrás, com 56,5% dos fortalezenses com excesso de peso.

 

São muitos os fatores que contribuem para isso, mas o consumo de alimentos ultraprocessados e o sedentarismo, sem dúvida, estão no topo do ranking. A tecnologia, as facilidades dos aparelhos para substituir o esforço humano, a rotina frenética de trabalho e a falta de motivação estão criando e reproduzindo crianças e adultos sedentários, que, em pouco tempo, poderão se tornar doentes. Em paralelo, a indústria alimentícia, com suas preparações ricas em sódio, gorduras trans e açúcares, de fácil acesso e baixo custo, cresceu assustadoramente. Lutar contra isso não é fácil.


A obesidade atinge as pessoas de diversas formas, muito além dos quilos a mais. Na minha rotina profissional, recebo pessoas que lutam há anos contra diabetes, hipertensão, alto colesterol, problemas gastrointestinais, dores na coluna e joelhos, além de transtornos psicológicos. Assim como a saúde, a sociedade não é tolerante com pessoas que estão obesas. Por isso, esse processo pode ser cansativo, desanimador, frustrante. E no caso de obesos mórbidos, quando os métodos tradicionais como dieta, exercícios e mudança de comportamento se mostram ineficazes em longo prazo, o processo é ainda mais complexo.


É justamente aí que a cirurgia bariátrica se insere. Para as pessoas com obesidade que experimentaram os métodos tradicionais sem êxito, a cirurgia bariátrica ou gastroplastia é uma opção eficaz, com perda de peso em percentual satisfatório para o controle da obesidade e desaparecimento das doenças associadas, como diabetes e hipertensão.


Mas a gastroplastia sozinha não faz milagre, é preciso muito comprometimento pessoal. Além disso, o acesso ao procedimento, de alta complexidade, ainda é muito reduzido. Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica apontam que, em 2016, foram realizadas cerca de 100 mil bariátricas em todo o País, sendo apenas 10% deles na rede pública. Por isso, um dos principais desafios do Brasil é tratar a obesidade como problema de saúde, com políticas públicas que consigam barrar o seu crescimento.


Assim como a saúde, a sociedade não é tolerante com pessoas que estão obesas. Por isso, esse processo pode ser cansativo, frustrante

 

Paulo Eduardo Campelo

drpaulo@institutoamo.com 

Cirurgião geral e bariátrico do Instituto AMO; membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) e presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica (Sobracil-CE)

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