Briga, em português, como nas demais línguas ibéricas, tem o mesmo sentido de altercação, desavença. Está, pois, evidente que sua origem se confunde com a de brega. Devem ser, aliás, a mesma palavra, dita de duas formas.
Vê-se hoje que, por extensão, no Brasil, brega ganhou semanticamente o estatuto de adjetivo (coisa brega), advindo do lugar em que costumava haver... brigas. Agora, perguntamos: o que é finalmente brega na linguagem popular, na língua falada em nosso país? Tem tomado a acepção de algo ou alguém de gosto duvidoso, sem o refinamento da criação de melhor nível. Isso, na perspectiva de quem está alheio ou isento à coisa...
Há uma pitada de preconceito nisso, inclusive quando alguém quer ouvir, num bar ou mesmo numa apresentação pública, alguma coisa dita brega, para risadas e olhares numa cumplicidade de tola matreirice e certo esnobismo: “adoro música brega”... Autores de música brega têm o seu público fiel, sem essas demonstrações de galhofa inútil. A música que se faz hoje (refiro-me ao Brasil, mas desconfio que o fenômeno seja mundial) sofre uma dicotomia: de um lado, os autores que exercitam o bom gosto, os ditos geniais da MPB; de outro, os bregas. Isso se dá porque não há uma natural parceria entre os letrados e os autores intuitivos.
Mas houve uma época em que isso era possível: Ismael Silva (filho de cozinheiro e lavadeira) e Noel Rosa (de classe média alta). Aí não havia a separação, hoje tão evidente, entre os gostos musicais, quando a classe média intelectualizada “visita” a música dita brega, como uma espécie de concessão bem humorada....
Luciano Maia
memoria-das-aguas@uol.com.br
Membro da Academia Cearense de Letras