Somos constitucionalmente bissexuais e, durante as vivências, vamos elaborando uma posição sexual mais que outra, que, contudo, não desaparece. Continua a existir recalcada, tendo efeitos. Então, não generalizem uma problemática que é da individualidade de vocês. A posição sexual de um sujeito nem se define biológica nem socialmente. A sexualidade se refere à posição na linguagem. Não se ensina ninguém a ser menino ou menina! No mais, informem apenas uma referência da psicologia, com bases epistêmicas pertinentes, que sustente essa proposição. Se tal for apresentado, sem ranço moral religioso, sugiro aos psicólogos retrocederem em suas mobilizações sobre o fim das estigmatizações. Tal significaria, ainda, que os teóricos, aos quais a psicologia deve se agarrar, para não ser engolida por um fundamentalismo caduco, estavam equivocados.
Ora, não transmitam saberes poluídos por relações de poder. Esta ação, além de político e teoricamente aberrante, é um desserviço à promoção da diversidade humana. A proposta de cura gay pertence à doutrinação religiosa. Nada de psicologia há aí. Pas de tout! O homossexual é julgado pelo objeto que ama quando deveria ser captado pela qualidade do amor que tem a oferecer a quem quer que seja.
Freud diz não haver vantagens na vida homossexual, tampouco, representa vício, delito, degradação. Não é doença. Apenas uma variedade do exercício sexual. Assim, a psicologia pode ofertar duas coisas. Ao homossexual, condições para que ele não retroceda ao seu desejo e por este se responsabilize quando confrontando a crueldade social. Aos heterossexuais, que dizem devolver ao homossexual o estado de heterossexualidade normal perdido, uma escuta sem julgamentos para o impasse mental que experenciam.
Kelly Albuquerque
kelly.albuquerque@fanor.edu.brMestre em Psicologia e professora do Curso de Psicologia da DeVry Fanor