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Ítalo Coriolano: Ciro, o momento é de respeito e equilíbrio
Opinião

Ítalo Coriolano: Ciro, o momento é de respeito e equilíbrio

Edição Impressa
Tipo Notícia Por

Ítalo Coriolano

italocoriolano@gmail.com

Jornalista do O POVO


Em 2002, o então candidato a presidente da República pelo PPS, Ciro Gomes, soltava uma frase que ajudaria a comprometer seriamente seus planos políticos. Ao ser questionado sobre o papel que sua esposa na ocasião, a atriz Patrícia Pillar, teria na campanha, o ex-governador do Ceará respondeu: “A minha companheira tem um dos papéis mais importantes , que é dormir comigo. Dormir comigo é um papel fundamental”. Ciro tentou consertar o grave erro: disse que se tratava de uma brincadeira, pediu desculpas, mas o estrago já estava feito. Após resumir a importância de sua mulher a um caráter meramente sexual, uma das candidaturas mais competitivas da época despencou nas pesquisas e amargou uma quarta colocação.


Mais de 15 anos depois, já calejado pela sequência de declarações infelizes, o mesmo Ciro Gomes esbanja machismo ao comentar a possível candidatura da ex-ministra Marina Silva ao Palácio do Planalto. “Não vejo ela com a energia e o momento é muito de testosterona (hormônio masculino)”, ataca o pedetista. Esse tipo de discurso soaria até “normal” caso tivesse saído da boca do também presidenciável Jair Bolsonaro, que já faz do preconceito instrumento de visibilidade. Mas vindo de Ciro Gomes, que integra um partido de esquerda e se diz do campo progressista, é impossível não lamentar profundamente.


O momento que o País vive é de grave risco às conquistas sociais e de desconstrução das lutas por igualdade de gênero. Ao reforçar conceitos misóginos, que colocam a mulher como figura fraca frente aos desafios da política brasileira – que são muitos, ninguém pode negar -, Ciro comete um verdadeiro desserviço e ainda ajuda a desgastar mais a sua imagem. O debate que deve ser feito não é se o (a) sucessor (a) de Michel Temer deve ser homem ou mulher, mas se tem capacidade intelectual, postura ética, sensibilidade e equilíbrio emocional diante da relevância que o cargo possui.


Se a estratégia de Ciro é tentar conquistar eleitores desiludidos com a política que descamba para vertentes mais reacionárias, creio que não terá muito sucesso, pois soa como desespero. Ao mesmo tempo, perde credibilidade junto a setores mais de esquerda que ainda têm esperança numa candidatura do ex-presidente Lula. Assim, o ex-governador permanece dentro de um limbo eleitoral que talvez explique a estagnação nas sondagens de intenções de voto. Se em 2002 Ciro viu sua candidatura naufragar, talvez em 2018 ela não consiga nem zarpar.

 

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