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Editorial. Morte do reitor: arbítrio e violência descabidos
Opinião

Editorial. Morte do reitor: arbítrio e violência descabidos

Cancellier não estava envolvido nos supostos desvios; a PF o acusou de obstrução à justiça
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Tipo Notícia

Aopinião pública democrática nacional ainda não conseguiu encontrar - seja da parte do Estado brasileiro, seja em segmentos hegemônicos e influentes da sociedade - uma reação à altura da tragédia que levou à morte (por suicídio) o reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier de Olivo, há menos de um mês. É espantoso que, em pleno Estado Democrático de Direito, um cidadão seja levado a se matar como única maneira de afirmar sua dignidade e seu direito à presunção de inocência, depois de se sentir injustamente acusado.


O reitor e outros seis professores foram detidos pela Polícia Federal, preventivamente - sem terem sido, antes, convocados a depor pela autoridade policial, como manda a lei. Tratava-se da investigação de um suposto esquema de desvios de verbas de bolsas de educação à distância do programa Universidade Aberta do Brasil (UAB).
 

Apelidada de Ouvidos Moucos, foi ação espalhafatosa, com os suspeitos presos e algemados, à vista de todos, e recambiados para uma cela onde foram despidos e sofreram seguidas humilhações. O reitor não estava envolvido nos supostos desvios. A PF o acusou de obstrução à Justiça. 

 

Comprovou-se, depois, que ele não se opôs à investigação, apenas, depois de ouvir as instancias diretoras para dirimir uma questão técnica sobre qual órgão presidiria as investigações, seguiu as orientações da Procuradoria jurídica da instituição
 

Num mundo de informações instantâneas, basta um pequeno erro no seu processamento e, logo, uma vida pode ser destruída. No caso, os agentes da lei não só a pisotearam, mas, deram estardalhaço à operação, cometendo desrespeito à dignidade pessoal dos detidos. Nisso, foram secundados por coberturas jornalísticas sem rigor na apuração dos fatos. O pior é que, além de tudo, uma decisão judicial impediu reitor de adentrar sua própria universidade (onde conviveu desde estudante e desenvolveu toda a sua vida acadêmica) como se fosse um criminoso. Essa indignidade provocou o desfecho trágico: “A minha morte foi decretada quando fui banido da universidade!”, dizia o bilhete encontrado no bolso de seu cadáver.
 

Já basta. É hora de o Brasil sair desse desatino e voltar ao Estado Democrático de Direito pleno, onde um homem não precise se matar para fazer valer sua dignidade e seus direitos de cidadão.

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