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Editorial: A galáxia Brasília e o Brasil
Opinião

Editorial: A galáxia Brasília e o Brasil

O governo central está liderando a sociedade para, junto com ela, formular as estratégias requeridas? Nada disso
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A sociedade brasileira vive um momento de aguda inquietação, diante do acúmulo cada vez maior de problemas no cotidiano dos seus cidadãos. Enquanto isso, as instituições encarregadas de lhes dar respostas apropriadas entregam-se a um jogo de poder narcísico, em torno do próprio umbigo. Não se dão conta de que a sociedade real espoca por todos os poros do tecido social, não mais cabendo dentro do molde artificial que tenta impedi-la de enxergar-se, a si própria, e de questionar os que têm a obrigação constitucional de mexer nos cordéis do poder decisório, em seu nome.

 

Um dos pressupostos da paz pública é o equilíbrio na inter-relação entre os componentes da sociedade, com vistas à realização de objetivos comuns. Quando a balança pende mais para um deles, dispara o alarme da desproporcionalidade e fere-se o princípio da isonomia, expondo o nervo da injustiça. Isso gera inconformismo. Se os freios e contrapesos não funcionam, as distorções se alastram, contaminando todas as dimensões (econômica, social, política, institucional, jurídica e cultural), gerando uma cacofonia própria de motor desconjuntado.


A sociedade sente-se cada vez mais inquieta. A violência do crime organizado, por exemplo, estarrece e intimida os cidadãos e vai tornando reféns os próprios espaços públicos. Levar um filho à escola pública, ou nela ministrar aulas, ou assisti-las, tornou-se, em muitos lugares deste País, um risco igual ao de atravessar a terra-de-ninguém num front de guerra.


Claro, a contenção da violência passa pelo controle do tráfico de armas nas fronteiras, pela capacitação das polícias e seus serviços de inteligência e por várias medidas técnicas rotineiras, já bastante conhecidas. Providências que serão inócuas se não forem acompanhadas de políticas públicas sociais e estruturais, pois a repressão, por si só, não dá conta do recado. As bancadas federais e regionais – a do Ceará, por exemplo – estão voltadas para essa questão (que é apenas uma das tantas que infernizam o País)? O governo central está liderando a sociedade para, junto com ela, formular as estratégias requeridas? Nada disso. Brasília está numa galáxia distante que tem a pretensão de fazer tudo girar em torno de seus interesses corporativos, palacianos e fisiológicos. Quando sairá de seu solipsismo?



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