Um dos pressupostos da paz pública é o equilíbrio na inter-relação entre os componentes da sociedade, com vistas à realização de objetivos comuns. Quando a balança pende mais para um deles, dispara o alarme da desproporcionalidade e fere-se o princípio da isonomia, expondo o nervo da injustiça. Isso gera inconformismo. Se os freios e contrapesos não funcionam, as distorções se alastram, contaminando todas as dimensões (econômica, social, política, institucional, jurídica e cultural), gerando uma cacofonia própria de motor desconjuntado.
A sociedade sente-se cada vez mais inquieta. A violência do crime organizado, por exemplo, estarrece e intimida os cidadãos e vai tornando reféns os próprios espaços públicos. Levar um filho à escola pública, ou nela ministrar aulas, ou assisti-las, tornou-se, em muitos lugares deste País, um risco igual ao de atravessar a terra-de-ninguém num front de guerra.
Claro, a contenção da violência passa pelo controle do tráfico de armas nas fronteiras, pela capacitação das polícias e seus serviços de inteligência e por várias medidas técnicas rotineiras, já bastante conhecidas. Providências que serão inócuas se não forem acompanhadas de políticas públicas sociais e estruturais, pois a repressão, por si só, não dá conta do recado. As bancadas federais e regionais – a do Ceará, por exemplo – estão voltadas para essa questão (que é apenas uma das tantas que infernizam o País)? O governo central está liderando a sociedade para, junto com ela, formular as estratégias requeridas? Nada disso. Brasília está numa galáxia distante que tem a pretensão de fazer tudo girar em torno de seus interesses corporativos, palacianos e fisiológicos. Quando sairá de seu solipsismo?