Ontem, o golpe de misericórdia (até agora) veio com a seguinte notícia: Justiça do Distrito Federal permite tratar homossexualidade como doença. É isso mesmo. Um juiz proibiu o Conselho Federal de Psicologia de fiscalizar as práticas de “cura gay” e abriu brecha para voltarmos mais de 20 anos no tempo. E sabe o que mais me assusta? Ver os comentários agressivos nas redes sociais de gente comemorando todo esse retrocesso.
No Facebook, a chacota é dizer que estamos voltando ao ano de 1964. O buraco é mais embaixo, eu acho. Há cinco décadas, a sociedade brasileira vivia outro contexto de acesso à informação. Não se trata agora de atos de desconhecimento: essa massa conservadora comentarista de portal de notícia tem se esforçado para ser intolerante. Parece tudo um grande jogo. O País é o Maracanã, e só um dos lados ganha. Não existe, tudo indica, possibilidade de diálogo ou de entendimento das subjetividades. O objetivo é tirar, sem pena, qualquer direito básico do lado dos “artistas transviados”.
Queria ser otimista e dizer que há avanços, a exemplo do sucesso da drag queen Pabllo Vittar em todo o País – coroado com a participação dela no Rock in Rio. Esse mesmo evento, inclusive, foi marcado pelo “lacre” da Liniken e do johnny hooker, que se beijaram “sem temer”. Infelizmente, porém, ainda não consigo celebrar esses feitos.
Como mantra, tenho usado a música de Rico Dalassam, pioneiro LGBT no meio rapper. Ele canta: “Não deito pra nada, a vida me fez flor, no mesmo corpo fez granada”. Canto, mesmo sabendo que parecemos todos deitados nesse momento. Como levantar? Dalasam também dá pistas: “Mesmo sem saber como enfrentar, meios pra prosseguir, se chegamos aqui, há ainda muito chão e mil corações pra ideia brotar”.
Renato Abê
orenatoabe@gmail.comJornalista do O POVO