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Editorial: "Vitória de Merkel: equilíbrio ameaçado"
Opinião

Editorial: "Vitória de Merkel: equilíbrio ameaçado"

A chanceler Alemã, além de fustigada pela esquerda, estará sob a mira da extrema-direita (AFD)
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A reeleição da chanceler Angela Merkel, na Alemanha, pela quarta vez consecutiva, reitera uma liderança de reconhecido lastro, num mundo em que a volatilidade política tem sido a marca. Contudo, a entrada do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) no Parlamento alemão empana um pouco esse sucesso, pois foi capaz de fazer ruir a coalizão moderada que vinha governando o país sem grandes traumas. Sobretudo, traz um simbolismo sinistro por remeter os olhares para uma época que a maioria dos alemães gostaria de esquecer.


A coligação responsável pelo governo era formada pelo partido conservador União Democrática Cristã (CDU) e pelo Partido Social Democrático (SPD). Apesar de ser o mais votado, o CDU, de Merkel, caiu de 41,5%, obtido em 2013, para 33%.

O SPD caiu de 25% para 20,5%. O terceiro lugar ficou com o Alternativa para a Alemanha (AfD) que, em 2013, obteve 4,7% (e não ingressou no Parlamento por não superar a cláusula de barreira de 5%) e agora subiu para 13,5%. Os outros partidos que transpuseram a cláusula de barreira foram o Partido Liberal-Democrático (FPD), com 10,5%, o Verde, com 9,5% e a Esquerda (Der Link), com 9%.


Vendo que seus eleitores estavam insatisfeitos com sua aliança com os democratas-cristãos, os social-democratas anunciam a saída da coalizão, passando para a oposição. Isso cria dificuldades para Merkel, que tentará uma coalizão inédita com os liberais e os verdes. Ou, então, formará um governo minoritário – o que é permitido.


O fato é que a chanceler alemã, além de fustigada pela esquerda, vai estar sob a mira da extrema-direita (AfD). Trata-se de uma situação extremamente incômoda para muitos alemães, ainda surpresos pela quebra de um tabu: desde a queda do III Reich, nunca algum partido com aproximação ideológica do nazismo tinha-se viabilizado no país. O AfD é um partido que brandiu a bandeira da xenofobia, explorando a insatisfação de segmentos da população com o programa de acolhimento de um milhão de refugiados fugidos de países islâmicos em guerra.


Não se trata só de uma política generosa de Merkel, mas de uma necessidade de Estado, já que a Alemanha não dispõe de mão de obra nativa para muitos serviços que são refugados pelos seus próprios cidadãos. É isso que o radicalismo de direita não quer enxergar.



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