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Editorial: "Trump na ONU: genocídio em pauta"
Opinião

Editorial: "Trump na ONU: genocídio em pauta"

A questão norte-coreana tem de ser resolvida por meio de uma ação diplomática multilateral
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O mundo assistiu, atônito, ao discurso do presidente americano Donald Trump, na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), na última terça-feira, quando ameaçou “destruir totalmente” a Coreia do Norte, caso esta persista em manter um programa nuclear que seja considerado ameaçador pelos Estados Unidos e seus aliados. Desde o desaparecimento do Terceiro Reich, na Alemanha nazista, o mundo não voltara a ouvir uma ameaça tão explícita de extermínio de um povo por uma potência rival, a pretexto de punição de erros cometidos por seu governo. Sem falar no fato de que, numa guerra nuclear, não há vencedores.


Embora as estroinices de Trump se tenham tornado rotineiras, imaginava-se que existiriam algumas barreiras éticas e políticas intransponíveis, cuja ultrapassagem minaria, de forma implacável, a autoridade moral de quem se arriscasse a isso, a partir dos fundamentos principiológicos erguidos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948. Porém o presidente americano tem uma capacidade quase infinita de se superar na arte de expor seus destemperos de forma arrogante e pretensiosa.


Claro que o mundo se arrepia diante da forma “provocativa” como o governo de Pyongyang se conduz nessa questão. Ainda mais, quando não se tem como aferir o juízo real do povo norte-coreano a respeito das opções de seu governo, dada a natureza despótica do regime. Mas isso não pode ser justificativa para uma ação unilateral de algum país discordante. E, aqui, nada melhor do que aplicar um velho aforisma: não se deve matar o doente a pretexto de curar a doença. Seria uma incongruência.


A questão norte-coreana tem de ser resolvida – pelo bem maior da humanidade – por meio de uma ação diplomática multilateral. A garantia de segurança recíproca é a base principal para se chegar a um acordo plausível a esse respeito, entre estados soberanos (independentemente do regime político vigente em cada um). Não há outra opção, visto que um ataque nuclear não ficaria sem resposta (a China e a Rússia o engoliriam?). Ainda que a Coreia do Norte não conseguisse retaliar, os próprios efeitos da fissão nuclear provocada pelo ataque atingiriam o planeta como um todo. Seria um suicídio. Basta isso para demonstrar a insensatez da opção de Trump.


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