Na adolescência, a Praça Portugal tornou-se nosso programa favorito da sexta-feira no finalzinho de tarde. Nela se instalou uma feira de plantas onde meu tio Adrimar tinha uma venda que a prima Patrícia cuidava e aproveitava para paquerar. As pessoas estacionavam na rotatória da praça e ficávamos jogando conversa fora, encostadas nos carros (Brasília, Fusca, Belina, Chevette). Não existia paredão de som e a conversa fluía tranquilamente com os carros passando em baixa velocidade procurando algum conhecido.
Depois, a praça passou a ser ponto de passagem; o volume de carros na rotatória tornava inviável o acesso sem risco de atropelamento. Às vezes, as pessoas passavam devagar apenas para arriscar uma olhada na grande tribo de jovens com suas roupas pretas, pinturas nos olhos e cabelos lambidos.
Nesta época, a praça ficou conhecida como praça dos emos. No Natal também tinha a gigantesca árvore para abrilhantar a época festiva.
Veio, então, o plano de mobilidade com uma série de polêmicas, tira a praça, deixa a praça, modifica a praça, não modifica a praça, uma luta sem consenso. Ainda voltei à praça para as manifestações contra a corrupção. Fui com papai e minhas filhas, três gerações na Praça.
Agora a Praça Portugal voltou a ser a velha Praça dos anos 1970. Desta vez, não tem a venda de plantas do tio, mas a vendinha de roupas da Nali, onde a Belinha passeia com o Apolo. A família voltou a frequentá-la com segurança e harmonia. Me sinto bem-vinda de volta à minha querida Praça Portugal.
Astrid Câmara
astrid.camara@fortaleza.ce.gov.brGerente da Célula de Posturas e Edificações da Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma)