O cancelamento da exposição foi correto, pois se deu mediante a uma resposta negativa dos cidadãos em geral como consumidores, incluindo os próprios correntistas da instituição financeira (por meio de mais de 20 mil cancelamentos de cartões do banco) a uma exposição financiada com dinheiro público (quase 1 milhão de reais oriundos da Lei Rouanet).
Não se trata de censura, pois não houve nenhuma determinação para que a exposição fosse encerrada. Trata-se de um boicote da própria sociedade pela ofensiva das exposições.
O caráter duvidoso das obras despertou indignação por se mostrar criminoso, ferindo a legislação brasileira em questões como apologia a pedofilia, zoofilia, o vilipêndio da fé alheia (no qual configura-se qualquer religião), além de expor crianças a imagens e experiências inadequadas para a faixa etária, compactuando com uma agenda global que tem por objetivo destruir a infância, utilizando-se de recursos de prazer do ser humano como o olhar, para invadir um universo que cabe aos pais educar e decidir, como, por exemplo, discussões sobre gênero.
Existe um limite tênue entre a arte, a lei e o respeito às convicções do outro, limite tal que deve ser respeitado e se faz essencial para uma sociedade sadia. Ridicularizar a fé dos outros está longe de ser arte, expor crianças à pornografia é crime e isso não se discute. E é exatamente por isso que têm surgido inúmeras queixas-crime sobre o caso Santander em todo o País.
Uma das minhas preocupações é ver que, enquanto “debatemos” se foi correto ou não fechar a exposição, em Brasília, o deputado Jean Wyllys está como relator de um projeto da Comissão de Cultura, o PL 3291/15 do deputado Bacelar, no qual, em seu artigo 287, traz a “descriminalização da manifestação de natureza artística”. Ou seja, enquanto discutimos o direito à liberdade de opinião, a verdadeira censura está sendo aplicada com força de lei no Congresso Nacional.
Ridicularizar a fé dos outros está longe de ser arte, expor crianças à pornografia é crime e isso não se discute
Renata Karla
renatakarlacontato@gmail.comEmpresária e diretora do Grupo de Estudos Veritas
NÃO
A exposição Queermuseu está marcada por controvérsias: uma questão própria aos patrimônios em disputa. A sua abertura desdobrou na leitura crítica elaborada pelo movimento cuir, que considerou a narrativa elaborada de perspectiva branca e higienizada, sem apresentar no recorte temático uma abordagem que pudesse considerar a diversidade de visões que partem da América Latina, ou seja, apresentou um roteiro que não atendeu a proposta ambiciosa do título, de viés espetacular e midiática.
Esse título atraiu outro público ao cenário da Queermuseu, que criminalizou a montagem da exposição, movidos por uma visão de mundo fundamentada na defesa da religiosidade cristã, da família e das pessoas de bem. Este grupo acusou o Banco Santander e o curador de pedofilia e zoofilia, por exemplo, pressionando o Banco Santander para fechar a exposição, instaurando a censura.
O título espetacular interessou ao setor de comunicação e marketing do Banco Santander, pois o interesse de associar a sua marca à arte contemporânea faz parte de um investimento de comunicação que visa atrelar a imagem do banco às ideias e práticas inovadoras, de vanguarda, assegurando aos investidores que o Brasil é um país de pensamento arrojado. Estratégia pertinente enquanto a produção de arte contemporânea não coloca o Banco em contexto de polêmicas controversas, nesse momento o Banco Santander não soube trabalhar museologicamente o problema, por isso, encerrou a exposição.
A Museologia propõe a partir da Nova Museologia que o Museu seja um fórum de debates, que a partir de uma perspectiva social possibilite uma ação transformadora e que entenda que as pessoas
são protagonistas da construção do conhecimento elaborada em uma instituição museológica. Fechar a exposição não foi criar uma zona de contato. Ao contrário, quando o Banco Santander aceitou a pressão dos censuradores, despertou nestes atores um sentimento de autoridade fiscalizadora dos espaços culturais, e desdobrou em uma amplificação das práticas de linchamento público nas redes sociais.
O título atraiu outro público ao cenário da Queermuseu, que criminalizou a montagem da exposição
Carolina Ruoso
carol@ruoso.comProfessora de História da Arte da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)