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Antônio Geraldo da Silva: "Suicídio: pela quebra de tabus"
Opinião

Antônio Geraldo da Silva: "Suicídio: pela quebra de tabus"

É necessário que os profissionais de saúde estejam aptos a abordar, avaliar e identificar fatores de risco em um suicida em potencial
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Durante séculos, por motivos religiosos e morais, o suicídio foi considerado um dos piores pecados que o ser humano poderia cometer. Esse tabu virou um problema e mascarou uma triste realidade: ele pode afetar qualquer pessoa em qualquer momento da vida, independentemente do nível socioeconômico, idade ou raça. Doenças mentais, como depressão e esquizofrenia, não tratadas adequadamente representam 100% dos casos. Situações de vida estressantes também desempenham um fator significativo e podem servir de gatilho para o suicídio.

 

Só os números já deveriam bastar para que o assunto deixasse de  ser visto com tanto preconceito e fosse encarado como realmente é: um grave problema de saúde pública. Para se ter uma ideia, o Brasil é o oitavo país em número de suicídios: foram 11.821 em 2012, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Isso representa em média 32 mortes por dia. No mundo, no mesmo ano, mais de 800 mil pessoas morreram desta forma. A cada 40 segundos, uma pessoa comete suicídio e, a cada três, uma atenta contra a própria vida. E as estimativas não são animadoras: até 2020 poderá ocorrer um aumento de 50% na incidência anual de mortes por suicídio no mundo.


Por tudo isso, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) não mede esforços para fornecer informações sobre o tema a todos os profissionais de saúde e à população. Para chamar a atenção para o assunto, a entidade promove em todo o País, em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), desde 2014, a campanha Setembro Amarelo. O objetivo é informar corretamente a sociedade acerca da prevenção ao suicídio. A iniciativa tem ajudado a desmitificar o tema e a mostrar o quanto é importante reconhecer os fatores de risco e procurar auxílio médico. Afinal, a doença mental deve ser tratada como qualquer outra, pois se trata de uma emergência médica.


O Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, em 10 de setembro, também é amplamente divulgado pelas instituições, que ainda lançaram cartilhas sobre o tema, a fim de orientar profissionais de saúde e da imprensa. Porém ainda há muito a ser feito. Para um efetivo trabalho de prevenção, é necessário que todos os profissionais de saúde estejam aptos a abordar, avaliar e identificar fatores de risco em um suicida em potencial. Com tantos estigmas, é difícil buscar ajuda. Mas a responsabilidade de assegurar que ele tenha o melhor tratamento é nossa e do Estado. É ainda fundamental que políticas de saúde mental sejam implementadas de forma eficiente na rede pública e também contamos com o Estado para isso.


Antônio Geraldo da Silva

antoniogeraldo@terra.com.br

Superintendente técnico da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), coordenador nacional da campanha Setembro Amarelo e presidente eleito da Associação Psiquiátrica da América Latina (APAL)

 

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