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Sergio Vale: "A necessidade das reformas"
Opinião

Sergio Vale: "A necessidade das reformas"

Sem essa reforma, o ajuste fiscal irá por terra e o corte do déficit público terá que ser feito maciçamente por aumento de impostos
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Apesar da crise política de maio, a economia brasileira vem apresentando uma saudável resiliência. Tal turbulência poderia ter derrubado o País por uns bons dois trimestres pelo menos, mas a boa notícia foi que, a despeito do caos político, a condução econômica se manteve e isso foi sinal extremamente positivo para a continuidade da recuperação.

 

Em outros momentos, a conjunção de crise política com condução errática na economia levava a crises profundas, como a última recessão, recorde histórico negativo para o País. Dessa vez, a percepção de que nada mudaria na continuidade das reformas que começaram a ser implementadas ano passado foi essencial para que a recessão ficasse, de fato, para trás.


Isso não significa, contudo, que estamos livres de problemas. O maior dele hoje se refere à dificuldade do governo em aprovar a reforma da Previdência, absolutamente essencial quando se pensa em querer crescer no futuro. Sem essa reforma, o ajuste fiscal irá por terra e o corte do déficit público terá que ser feito maciçamente por aumento de impostos. O que se pede da sociedade assim é escolher entre um forte aumento de impostos ou cortar gastos públicos, considerando que o gasto previdenciário no Brasil é muito elevado quando se compara com países de renda média como o nosso. Grande parte do problema se dá no acúmulo de benesses às corporações em Brasília, a começar do funcionalismo público, mais afetado pela reforma e, obviamente, mais crítico à mesma.


Ao focar no ajuste fiscal, junto a reformas com a mudança da TJLP para a TLP no BNDES, além da própria percepção do Banco Central de que a meta de inflação tem que continuar diminuindo, o governo monta o cenário para a queda estrutural das taxas nominal e real de juros na próxima década.


Reformas como essas são difíceis de serem feitas e levam tempo para acontecer e surtir efeito. Por isso, o crescimento ainda é lento e só se consolidará em números mais fortes quando houver equilíbrio na condução da política e da economia. Hoje, apenas a economia está no caminho do equilíbrio. A política, entretanto, tende a entrar em rota de estabilidade a partir de 2019 com novas eleições e, espera-se, de um governo que siga a trilha reformista iniciada ano passado.


Não nos enganemos aqui. Não há mágicas para a condução da política econômica. Depois de anos de estrago nesta, o ajuste se torna naturalmente duro, mas com o benefício de bons resultados no futuro.


Sergio Vale

Economista-chefe da MB Associados; palestrante do Seminário Futura Trends 2017

 

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