São muitos os pontos que agridem a moralidade no que está sendo feito no Congresso Nacional. A inclusão na pauta de discussões de propostas como a da volta das doações ocultas demonstram a intenção de esconder da sociedade a identidade de grandes doadores, certamente interessados em obter privilégios por meio dos candidatos que financiam.
Neste mesmo sentido de possibilitar volumosas doações, que costumeiramente estão ligadas a interesses escusos, chegou-se ao absurdo de cogitar a ampliação de dez para até cinquenta por cento o limite da renda no ano anterior ao da eleição, da pessoa física que se decida a contribuir. Não se pode imaginar como razoável que alguém contribua com a metade da sua renda anual para uma campanha política.
Além dessas medidas de pouca transparência e muita ambição arrecadatória, há a pretensão de muitos congressistas de criar um fundo eleitoral para financiar candidaturas, ampliando para valores bilionários o atual recurso de R$ 870 milhões do Fundo Partidário, tornando evidente que parlamentares deste tipo estão preocupados é consigo, e não com o nosso país.
Estas atitudes vêm na contramão do que a classe política precisaria estar fazendo para reconquistar a confiança da sociedade. Afinal, já não é mais apenas um sinal de alarme quando 96% dos eleitores brasileiros não se sentem representados pelos que estão exercendo mandatos eletivos, segundo pesquisa do Instituto Ipsos, publicada neste O POVO no dia 14 deste mês.
A decepção dos brasileiros com os políticos é muito grave, tendo afetado até sua percepção sobre o valor da democracia, pois, de acordo com a mesma pesquisa, apenas metade da nossa população considera esse sistema o melhor para governar o Brasil. Evidente que esta avaliação decorre de uma distorção produzida seguramente pela indignação das pessoas com o mau comportamento de muitos políticos e com o descaso de governantes em relação a muitas questões que afetam a vida cotidiana.
Diante de tudo isso, é inquietante observar-se a letargia em que caiu a sociedade. Ficamos assistindo a esse vergonhoso espetáculo sem usar nossa capacidade de pressionar aqueles que já não nos representam. Está mais do que na hora de darmos um basta nessa farsa.
Roberto Macêdo
roberto@pmacedo.com.brEmpresário