Os movimentos dada e surrealista apresentaram-se como arautos desse fenômeno de transformação do conceito de cultura, dado pelas personalidades do pensamento europeu a que me referi. De lá para cá, mormente nos países menos assentados historicamente, esse processo se instalou de forma avassaladora, onde é hoje a cultura mais um objeto de diversão e espetacularização do que um repositório de valores que se possam cultuar (com estudos e práticas), com vistas à construção de patamares do conhecimento para o futuro.
Quem apreendeu uma noção muito precisa dessa desconstrução foi Mario Vargas Llosa, em sua obra A civilização do espetáculo (2012), em que demonstra que a pós-modernidade destruiu o mito de que as humanidades humanizam. Antes, em 1992, o francês Guy Debord já denunciava: “O espetáculo é a ditadura efetiva da ilusão na sociedade moderna”. Na imprensa de um modo geral, assiste-se hoje à espetacularização dos eventos de toda ordem: de um assassinato em uma comunidade ao desfile de um bloco carnavalesco; da comemoração do aniversário de uma pseudoartista à transmissão de uma partida de futebol...
Estamos diante de um processo de substituição da cultura, em seus moldes tradicionais, por uma avalanche de coisas novidadeiras, que podem servir para acumular conhecimentos passageiros, mas não sedimenta a noção de compreensão em profundidade do vasto universos das pessoas, suas aptidões e possibilidades. Vivemos a era do espetáculo em detrimento da cultura.
Luciano Maia
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Membro da Academia Cearense de Letras