O corpo sociocultural é aquele perfeito, cumpridor do seu papel de objeto de desejo, e até mesmo o “passaporte” para o clube da felicidade. Tudo parece muito fácil e acessível. Os grandes mestres-salas têm sido as blogueiras e as celebridades
fitness que sabem encarnar um ideal de eu a ser seguido e que pode ser alcançado por meio da disciplina de exercícios rigorosos, hits do momento, dietas light, low carb ou qualquer outra que prometa resultados mais rápidos. Não importam as singularidades. É uma questão de estar disposto a vencer a si mesmo, quase que uma obrigação moral. Tudo isso para fazer parte do Clube da Felicidade, quem ousaria recusar?
Muita gente é capaz de se submeter a tratamentos e soluções fáceis ainda que eles gerem prejuízos à saúde física e mental. Isso porque adotar um estilo de vida mais saudável requer muito esforço, inclusive o de se perguntar o que é saudável para si mesmo diante de tantas informações controversas e plurais.
Do que tenho visto como psicóloga atuante na área clínica, a relação entre felicidade e corpo tal como vem sendo anunciada, na prática, tem contribuído para a infelicidade das pessoas, além de ter potencializado a exacerbação de diversos transtornos, como a anorexia e a bulimia. Alguns deles, como vigorexia e ortorexia, ainda estão em processo de reconhecimento da comunidade científica. O grande desafio é construir uma relação mais saudável com seu corpo, aceitando suas imperfeições. Além disso, é possível perceber que construir uma vida mais feliz é bem mais complexo do que conquistar um corpo perfeito, ainda que por algumas semanas ou meses. É preciso lembrar que nosso corpo é também biológico e busca se regular continuamente (homeostase). Assim, tudo o que ocorre rápido, o corpo reage como uma ameaça que ele precisa combater.
Adna Rabelo
adnarabelo@gmail.comPsicóloga