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Mauro Oliveira: "Ah, se eu fosse milionário..."
Opinião

Mauro Oliveira: "Ah, se eu fosse milionário..."

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Como qualquer beradeiro dos anos 1970, tempo em que os jovens acreditavam numa política decente, comprei todos os discos LP (vinil) da MPB e dos Mestres. Desde então, o violino de Vivaldi e a sanfona de Seu Luiz, filho de Januário, me cutucam feito a espada mágica de Merlin em Excalibur.


Vivaldi tem algo de inebriante. Abri minha última aula com “Inverno”, minha preferida, antes d’eu falar em bits e bytes. Um professor acaba levando à sala um pouco de sua alma momentânea. Afinal, a aula é uma arte que imita a vida... ou será o contrário?, diria Oscar Wilde.


Perguntei a meus alunos o que fariam se fossem milionários. Já tava meio sorumbático com as respostas, até que o Nicodemos quebra a corrente, “o mundo sou eu”, e se lembra do Bill Gates. Em 2000, Gates deixa a Microsoft e cria uma Fundação que promove pesquisa sobre a aids e outros massacres aos irmãos da África. Em 2006,  Warren Buffett, outro mais rico do mundo, contribui com US$ 30 bilhões,  apoiando a Fundação do “concorrente”.

No século 18, John Harvard lega a metade do seu patrimônio ao que viria a ser a primeira universidade americana.


Por que no Brasil nossos bilionários não fazem parecido? Cultura, educação ou ganância? Basta reparar numa noite estrelada do Cosmos de Carl Segan e perceber que somos o “cocô do cavalo do bandido” na imensidão Láctea. Acumular, acumular, acumular... Diga aí, mah, algo mais besta do que morrer bilionário? Quem se livrou do “fogo dos infernos” e do negócio da “vida eterna” sabe bem: nada mais divino do que melhorar a vida do outro! Quem são os nossos Gates, Buffetts e Harvards brasileiros... e os cearenses?


Eu me faço esta pergunta sempre que um jovem esquelético limpa o vidro do meu fusquinha 4x4, esfomeado à cata de míseros centavos, que, via de regra, costumamos negar com a empáfia de um dedo indicador feito limpador de para-brisa. Quantos destes jovens, “estrelas cadentes” imundas ao léu, seriam cidadãos de bem se a soberba bilionária os iluminasse, feito a magia de Vivaldi?


Quanto custa a um bilionário dar a ao jovem de rua a mesma oportunidade dada pela “Dama do Lago ao Rei Arthur”, sua nobreza, a chance divina de um jovem de rua retirar a espada cravada na pedra, sua dignidade!


Ei, e você aí, o que faria se fosse milionário?


Mauro Oliveira

amauroboliveira@gmail.com

Professor do IFCE Aracati e pesquisador Funcap

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