O crime de tortura cometido tem como base o discurso que domina o senso comum de que “bandido bom é bandido morto”. Vai na mesma linha dos que defendem irresponsavelmente o linchamento público de infratores da lei amarrados a um poste.
Pura barbárie.
Em um país democrático e regido por leis, não se pode cometer um crime como justificativa de uma suposta ação criminosa anteriormente praticada. Há legislação, e Estado — mesmo que por vezes ineficiente —, para agir nesses casos.
Fazer “justiça” com as próprias mãos é se igualar ao infrator, é ser tão criminoso quanto ele, ou até pior. Um crime não pode ser justificado pelo outro. A dupla foi presa pela Polícia e vai responder pelo crime de tortura.
Uma “vaquinha” feita online para arrecadar fundos e remover a tatuagem do rosto do adolescente foi marcada por ameaças aos organizadores e discurso de ódio. “Desempregado e honesto”, ironizou ao escrever na testa um moralista de Facebook. “Doar para instituições de caridade ninguém quer”, bradou outro cheio de razão. “Quem defende vagabundo, vagabundo é”, escreveu um “cidadão de internet”.
O falso moralismo e o discurso ignorante têm tomado conta do País que mal sabe o rumo que está tomando. O crime tem de ser combatido com ações governamentais e punido no regime da lei. É de conhecimento público que a distância entre a teoria e a prática no Brasil é enorme. O sistema prisional, que deveria recuperar infratores, dá condições ao criminoso de se especializar ainda mais no crime. O sentimento de impunidade não pode nem deve multiplicar o número de criminosos no Brasil.
Wagner Mendes
wagnermendes@opovo.com.br