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Paulo Elpídio de Menezes Neto: Os "homens novos" e as "carretilhas" da governação
Opinião

Paulo Elpídio de Menezes Neto: Os "homens novos" e as "carretilhas" da governação

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A nossa história política, o quotidiano de suas íntimas relações e compromissos, nem sempre exemplares, dão-nos a visão de um conluio organizado de forças e interesses muito pouco comprometidos com a natureza, os deveres do Estado e o equilíbrio e justeza das ações de governo. Não é de agora, não é vezo recente a ação concertada dos governos contra o Estado, tampouco a indiferença que lhes inspiram a nação e a sociedade. Em face dos momentos de paixão e árduas disputas políticas, a nossa índole “pacificadora” tem-nos levado a acordos e tentativas de conciliação, a arranjos e convergências custosos, menos para governos e governantes.

 

Movido pelo espírito de conciliação e levado pelas propostas reformistas que não encontravam guarida no governo Imperial, o Visconde do Paraná propôs-se (1853) organizar um Gabinete com “homens novos”, como os chamou José de Alencar. Pretendia Paraná aproximar os setores moderados dos liberais junto ao governo, afastando desse meio os mais radicais, bem assim neutralizar a ala extremada dos conservadores. Para José Honório Rodrigues, o espírito antirreformista “dominou nossa história formal e a conciliação formal, partidária, visava a romper o círculo de ferro do Poder, para que as facções divergentes, os dissidentes pudessem dele fazer parte”. A conciliação buscada pelo Visconde de Paraná apresentava-se como uma forma de “representação das minorias”.


Não se tratava da construção de uma “base aliada” para a aprovação de projetos governamentais, mediante a retribuição de benefícios e oportunidades de cargos no governo, muito menos de outras formas de compensação no molde bem talhado de “comissões” e propinas, em operações triangulares com empresas prestadoras de serviços ao poder público. Para Capistrano de Abreu, “conciliador” era um “termo honesto e decente para qualificar a prostituição política de uma época”. Ao contrário dos propósitos dos “homens novos”, as “carretilhas” dos velhos conservadores contrapunham às reformas e mudanças prometidas a lentidão dos procedimentos legislativos e da burocracia governamental, adiando medidas apresentadas e aprovadas aos poucos. Paradoxalmente, alçados ao poder, os “homens novos”, nos postos da governação imperial, cedo adotaram o mesmo ritmo de procrastinação das reformas; e o fizeram por meio de “carretilhas”, no passo lento das coisas sem pressa.


No olho do furação da crise que se abateu sobre nós, vemo-nos divididos entre os “homens novos” invisíveis e a vontade de romper com práticas político-partidárias envelhecidas, porém sempre recorrentes, as “carretilhas”, que ocupam os discursos, a ação parlamentar e as decisões de governo, exercitadas pelos políticos profissionais, escorados nas vantagens das recompensas do adesismo de oportunidade.

 

Paulo Elpídio de Menezes Neto

pedmn@globo.com

Cientista político

 

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