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José Flávio Sombra Saraiva: "A África no mundo turbulento"
Opinião

José Flávio Sombra Saraiva: "A África no mundo turbulento"

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O Reino Unido está dividido. A primeira-ministra Theresa May está em pressões duras para formar maioria no mais antigo Parlamento do mundo. Há tempos turbulentos na formação de uma coalizão dirigente para os próximos anos. Há preocupações nas ilhas do Reino Unido. Há mesmo certo recuo da decisão do Brexit. Emergem preocupações na City financeira e mesmo do medo dos novos bárbaros do terrorismo contemporâneo.

 

Os cidadãos dos Estados Unidos da América estão em transe. No outro lado do Atlântico do Norte estabeleceu-se uma nova lógica de governar. Trump trouxe direção própria de governar que não se conhecia, na história, no mais importante país do planeta. Os norte-americanos têm história de gente trabalhadora. Sua história está ancorada na ideia exitosa no campo da democracia e da elevação econômica e social.


A China vem avançando. Amplia o campo econômico no mundo, mas sua dívida democrática é enorme. A modernização tecnológica e o peso da sua forma de avançar já estão em discussão pelo Ocidente. Na Rússia, o Putin aproveita as brechas das outras grandes potências. Vai avançando, mas com um modelo centralista e autocrático de capitalismo de laços. Até nossa América Latina anda tonta, marcada nessas quadras na derrota da democracia na Venezuela. Anexe-se aos trambolhos por aqui com a saída da trilha no Brasil do seu caminho histórico.


Mas na frente do Brasil, nas águas do Atlântico Sul, está a última fronteira econômica do mundo. O Brasil tem sempre dificuldades com o trato com a fronteira africana. Não há na África apenas conflitos terríveis e pobreza generalizada. Há uma nova África que vem se realizando seus projetos em silêncio. Refiro-me à crescente economia continental das commodities. Os chineses estão comandando, em parte, esse projeto de modernização african.


O Brasil, que tentou ir à África, perdeu-se nos projetos errados do BNDES e Petrobras em vários países do colosso africano. A África está entrando, quando o Brasil sai, de uma nova fase de desenvolvimento. Animada pelo potencial demográfico de 1 bilhão de consumidores hoje, a África cresce em torno de 6% anual o seu PIB nos últimos anos. E, particularmente na África Subsaariana, o PIB daqueles países, passará, neste ano de 2017, um PIB em torno de 2 trilhões - portanto, maior do que a do Brasil.


Em conclusão, enquanto os poderes tradicionais da política internacional caminham para momentos difíceis, um grande continente, composto por 54 países, até recentes colônias da Inglaterra e da França, além de Portugal, estão avançando seus projetos. Sabemos que falta muito para o continente africano ser marcado democrático em seu conjunto. Mas estão avançando aqui e acolá.


E estão olhando de binóculos os africanos as tais turbulências mundiais inventadas nesses tempos quentes nas relações internacionais.

 

José Flávio Sombra Saraiva

jfsombrasaraiva@gmail.com
PhD, The University of Birmingham, Inglaterra, e professor
da UnB

 

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