O lixo fala de um capitalismo enfurecido, de um consumismo desigual e da má educação de um povo. O lixo é paradoxal, fala da pobreza e da fartura de todos nós. Somos pobres dos valores que nos tornam humanos e fartos de coisas sem destino que logo mais transformamos em lixo. O lixo é tudo o que temos oferecido à nossa Cidade.
O que é uma cidade? Tomando o que vemos pelas ruas, cidade é um lugar público onde depositamos o nosso lixo.
Depositamos nas ruas o lixo que há dentro de nós. Perdemos o respeito por nós mesmos, por nossos vizinhos, esquecemos o bem comum, e que se “lixe” no lixo
a comunidade! As calçadas são “points” do lixo fruto do nosso consumo desenfreado.
Moro vizinho à chamada “Esquina dos sabores”.
Bem que podia ser mesmo uma esquina saborosa e feliz, mas, quando amanhece, pombos e mosquito se refestelam no lixo deixado pelos sabores da noite. Posso até dizer: moro ali, vizinho à “Esquina do Lixo”.
Logo ali, do outro lado, há um pequeno shopping, muitas vezes andando a pé desvio da calçada, pois a calçada não é minha, é do lixo. Os donos das lojas depositam ali o resultado do consumo diário. E haja caixas, caixinhas, sacolas, sacos plásticos e haja lixo!
Amigos que moram em outros bairros dizem o mesmo. A queixa é geral, os mosquitos proliferam, as doenças nos atacam, os hospitais superlotam, o lixo mata a gente!
O lixo fala...
O lixo fala de uma cidade mal amada por seus moradores e esquecida dos poderes públicos.
É isso.
Galeara Matos de França Silva
galeara@uol.com.brPsicanalista e psicopedagoga