Em linhas gerais, essa é a tragédia de 65,6 milhões de refugiados e de pessoas em deslocamento pelo mundo. É a contagem mais recente feita pelo Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas para Refugiados (Acnur). É mais que toda a população do Nordeste brasileiro, é mais que os habitantes de São Paulo e Minas Gerais somados - os dois estados mais populosos do Brasil. São dados até 2016 e desenham a crise humanitária atual como a mais grave já registrada. É o pior cenário desde que a ONU foi criada, sete décadas atrás.
São adultos e jovens que perdem a família inteira, crianças viajando entre países sem pai nem mãe, idosos doentes perdidos de seus familiares. Caminhantes sem destino certo numa agonia coletiva. É o que se vê de quem tenta sair do sexto ano de guerra na Síria (5,5 milhões). Ou dos que conseguiram escapar do Sudão do Sul (1,4 milhão), país africano considerado o mais novo do mundo e que, com 12 milhões de habitantes, declarou ao mundo estar “em situação de fome”. Crises sociais na Venezuela e no Haiti ampliaram o contingente de refugiados em direção ao Brasil.
Qualquer cidadão do mundo há de refletir, a partir deste momento, sobre o que foi feito de nossa humanidade. Há de se tirar algo disso e mudar nosso entendimento sobre o viver em sociedade, em refazer o que se imaginou como paz. Há mais de 65 milhões de andarilhos, escapando de guerras que não começaram. Muitos culpados disso governam ou se locupletam em poder e fortunas. Mas todos precisamos refletir, o quanto antes, sobre nossa desumanidade. Do número totalizado no documento do Acnur, 2,8 milhões de pessoas têm pedidos de refúgio sob análise. São os que, em breve, poderão ser aceitos em um novo país. É o mais próximo que vislumbram de esperança. É o que um refugiado mais busca.