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Sofia Lerche Vieira: "Chico Albuquerque, mestre da luz"
Opinião

Sofia Lerche Vieira: "Chico Albuquerque, mestre da luz"

Edição Impressa
Tipo Notícia Por

Sofia Lerche Vieira

 

sofialerche@gmail.com

Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e pesquisadora
do CNPq


Quando indagavam a Chico Albuquerque sobre o segredo da beleza de suas imagens, ele costumava brincar dizendo: “Fujam do centro do retângulo”. Assim ensinava que, mais do que uma câmera com muitos recursos, fotografar exige um saber enxergar. Deixar de lado o acessório e ater-se ao essencial. Em tempos de cliques digitais, a mostra alusiva aos 100 anos de nosso mestre da luz, apresenta uma preciosa lição sobre a arte de ver a essência das coisas.


As mais de 400 imagens, objetos pessoais e acessórios extraídos do imenso acervo produzido por Chico Albuquerque ora expostos no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, foram reunidas em justa homenagem por iniciativa do Governo do Estado do Ceará, da Terra da Luz Editorial, do Instituto Moreira Salles (IMS), do Rio de Janeiro, por meio de convênio com o Museu da Imagem e do Som de São Paulo. São um belo testemunho da arte de saber ver deste fotógrafo cearense que deixou ao Brasil um legado histórico ímpar.


Seus registros sobre personagens políticos e sociais falam por si. A imagem de Jânio – o presidente de obscuras motivações para a renúncia – é eloquente. O ser atormentado está lá, em sua inteireza; assim como estão todos os retratados, sempre mostrados em algum aspecto de sua essencialidade. O mesmo se pode dizer da fotografia publicitária, em registros de um tempo que foi se fazendo substituir por outro – marcas de produtos efêmeros, registradas para a posteridade.


A mostra percorre elementos essenciais de sua obra. Há imagens dos anos quarenta, ainda antes de sua partida para São Paulo, quando acompanhou Orson Welles nas filmagens de “It’s All True”. Lá estão também fotos de sua maturidade quando retornou ao Ceará, dividindo o muito que aprendeu com uma geração de fotógrafos cearenses e produziu a série Frutas e o livro Mucuripe. Ao capturar novas imagens dos jangadeiros que havia fotografado antes, Chico faz um estudo sociológico inigualável.


Do confronto entre as imagens do passado e do presente, nasce uma nostalgia indizível das velas do Mucuripe imortalizadas por Fagner e Belchior que já não se vê com frequência no horizonte da Beira Mar de Fortaleza. Por tudo isso e muito mais, a exposição Chico Albuquerque é imperdível. Parabéns e gratidão a Patrícia Veloso e todos os que, com carinho e profissionalismo, colaboraram para tornar esse momento de fruição possível. Bela homenagem ao grande fotógrafo, mestre e poeta da luz.

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