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Monalisa S. Lopes: "O script e o imprevisível na política brasileira"
Opinião

Monalisa S. Lopes: "O script e o imprevisível na política brasileira"

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Nos fins de 2016 escrevi para O POVO uma análise que apresentava breve retrospecto de 2016 e perspectivas para 2017. O argumento central era: “Apresentado como solução para as crises política e econômica, o impeachment não garantiu um retorno à estabilização do País. 2016 chega, portanto, ao seu fim como começou. Com um governo cujo líder carece de aprovação popular, é chamado a renunciar e cuja saída do cargo parece questão de tempo”.

 

2017 trouxe a consolidação do apoio parlamentar, midiático e econômico ao governo Temer. Apesar da baixíssima adesão popular, o governo confiava na aprovação das reformas trabalhista e previdenciária. A melhora na economia foi postergada para o segundo semestre. No céu de brigadeiro vivido pelo governo, a greve geral de fins de abril foi tratada como nuvem passageira. A impopularidade da reforma da Previdência foi traduzida pelo governo como desconhecimento da população sobre a proposta. E para desconhecimento, nada melhor que publicidade(?). Jornalistas indicavam que Temer estava conseguindo reunir, novamente, votos necessários para aprovar a reforma.


O script imaginado parecia seguir seu curso: Temer comandaria um governo de transição que faria reformas “necessárias” e pavimentaria caminho para 2018. Mas eis que a Lava Jato alterou novamente o jogo político. A delação do proprietário da JBS abalou a segurança do Governo Temer. Os áudios do diálogo entre Joesley e Temer tornam difícil a permanência no cargo. O inquérito aberto contra Temer piora o cenário de instabilidade. Entender como os demais agentes implicados nesse processo, Legislativo e Judiciário, irão se comportar é crucial.


Repercussões sobre esse cenário dominam redes sociais e círculos de debates. Mesmo as aclamadas eleições diretas não podem mais ser tomadas como garantia de retomada de uma regularidade para o jogo político. A crise política se aprofundou de tal modo que as opções “seguras” são cada vez mais difíceis de enxergar. Haverá futuro, mas quando e como?

 

Monalisa Soares Lopes
monalisaslopes@gmail.com

Professora de Ciências Sociais (Faced/Uece) e membro do Laboratório de Estudos em Política, Eleições e Mídia (Lepem/UFC)

 

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