Foi ali que tomei gosto por beber café preto em copo americano. No pé da cerca de madeira, um senhor me ofereceu água sem saber meu nome. Era perto de quatro da tarde e nunca esqueci o dourado que o iluminava enquanto me esperava devolver o copo. Virei madrinha de formatura do Izael, conheci o Alberto, um cubano que compartilhava métodos de alfabetização da ilha, descobria novos caminhos e tinha a Neidinha como guia. Recentemente reencontrei a Eva, que naqueles dias era menina, morava perto de um ipê amarelo e agora desenha blusas que são também estratégias para seguir sonhando.
Quando soube da chacina que aconteceu no Pará, onde dez trabalhadores rurais sem terra foram assassinados na última semana, voltei ao sertão cearense. Lembrei da madrugada em que estive em uma marcha da Via Campesina, em Limoeiro do Norte, para denunciar os abusos do agronegócio na região. Nesse município, em 2010, Zé Maria de Tomé foi atingido por 25 tiros de pistola. Zé Maria havia descoberto uma esquema de grilagem de terras públicas no perímetro irrigado Jaguaribe/Apodi e denunciava o uso indiscriminado de agrotóxicos na região. O crime segue impune.
Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), já morreram 36 pessoas, em 2017, vítimas de conflitos agrários. Uma barbárie assola o país e está diretamente ligada aos poderosos que acreditam que a única forma de distribuir terra é cavando covas para enterrar índios, sem terras, quilombolas.
Iana Soares
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