Naquela época, tinha uns 13 anos e não compreendia como aquele “rapaz latino-americano”, com apenas 21 anos, abandonara o curso de Medicina só para fazer música, em um mercado competitivo e muito polarizado (de um lado, a turma da Jovem Guarda; e de outro, o pessoal da MPB). Claro que eu fui o garçom daquela dupla de visitantes. O sobralense insistia em repetir seu repertório, cantando “Hora do Almoço”, e, mais ainda, continuar no propósito de tomar outras. Por isso, fui depressa à bodega do seu Bossa-Nova (acabara de abrir, devido ao recebimento do “pão nosso de cada dia”) e comprei, na “caderneta”, uma dúzia de pepsicolas pro “run-montilla”, que ainda estava lacrado, no piso da DKW do Sérgio, aguardando, certamente, os copos, gelos e limões, sem a menor ideia de que ele seria um dos artistas mais consagrados da MPB.
Dez anos depois, por ordem de José Raimundo Costa, entrevistei Belchior para o Caderno de Domingo, do O POVO, cujo título foi “Bel: um Sujeito de Sorte”, alusivo a uma de suas canções do insuperável LP “Alucinação” que, literalmente, junto com meu irmão Otávio, chegamos a “furá-lo” de tanto ouvir aquele vinil. Ano passado, a velha mídia continuou a bater no seu desaparecimento. E muitos comunicadores, alguns oportunistas, chegaram a oferecer vantagens econômicas em troca de um favorzinho: seu desencantamento.
Só que um talento inigualável como aquele não estaciona em qualquer endereço nem se deixa vivo para qualquer mortal. Ano passado, ele morreu, mas este ano... Bem, este ano... neste momento, a sua “Estrela Sobe!”
Durval Aires Filho
durvalairesfilho@gmail.comDesembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (TJ/CE) e membro da Academia Cearense de Letras