No pátio que circunda o jasmineiro, e onde se reunia a família, como não recordar as palavras ternas que, no aniversário de meu marido, há dez anos, Mamãe lhe escreveu: “Hoje passamos para suas mãos um jarro chinês, lembrança de nossos antepassados. Ele, em vez de flores, vai repleto da nossa amizade, do nosso carinho e da nossa gratidão e lhe fará lembrar a mansão das seis palmeiras, das festinhas de aniversário, do mês de Maria, do Natal, quando meu amado Luciano, com sua voz bem timbrada e doce, agradecia e pedia as graças à Virgem Mãe de Deus”.
Sei que não poderei conter as lágrimas ao ver a cadeira de balanço, de espaldar alto, em que Mamãe descansava a cabeça habitada por sonhos e lembranças, cada vez mais por lembranças, que seus sonhos, apesar de todo amor à vida que guardava, eram, sobretudo, os de reencontrar Papai e penso que já pressentia que esse momento vinha chegando.
Dizem que os anjos falam pelo boca das criancinhas. Ao saber que a bisavó fora para o Céu, Alícia quis ver a Meinha. Sua mãe explicou-lhe que isso não seria possível e a menina de quatro anos ficou calada. Mais tarde, revelou aos pais: “Girei minha varinha de condão, voei para o Céu e vi a Meinha com o Vovô Luciano e eles se abraçavam e beijavam”.
Que os anjos digam: Amém.
Angela Gutiérrez
angela_gutierrez@uol.com.brFilha de Angela Laís Pompeu Rossas Mota