No EBA houve painéis temáticos, grupos de trabalho (GT), exposição artística, literária e musical abordando, a partir de marcos dos direitos humanos, como a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, diversos assuntos como gênero, capacitismo, direito das crianças, cultura, lazer, trabalho, educação, saúde, entre outros. O assunto que mais se destacou e mobilizou os participantes, entretanto, foi o que tratou de sexualidade e relacionamentos.
Jovens autistas falaram de namoro, da expectativa de construir família, de estratégias para lidar com os contextos sociais. Houve também depoimentos relatando a repressão da sexualidade por parte da família e reclamações incisivas pelo fato de serem tratados como “anjos”, pois isso lhes nega a humanidade e, principalmente, lhes nega o exercício da sexualidade. Houve também muitos relatos de abusos sexual ocorridos dentro do seio da família. Não um nem dois. Vários.
A ONU diz que a violência é três vezes mais comum em pessoas com deficiência que na população em geral; nas mulheres com deficiência, o abuso sexual é 10 vezes mais frequente. No Brasil, não há dados desagregados sobre violência contra pessoas com deficiência e as campanhas de conscientização passam ao largo.
Surge assim o tema para campanha da Abraça, “Sou autista, tenho direito ao meu próprio corpo”, elaborada por pessoas autistas do começo ao fim e que denuncia também os tratamentos experimentais, desumanos e degradantes que fazem de autistas cobaias, ferindo sua dignidade e pondo em risco sua integridade física.
O EBA foi um marco para o protagonismo das pessoas autistas no Brasil. Cada vez mais serão autistas, em vez dos médicos e familiares, a ter voz nos programas de TVs, nas campanhas de conscientização e na incidência política. É a hora e a vez das pessoas autistas tomarem seu lugar na sociedade. Podem esperar que alguns paradigmas vão ser quebrados.
Alexandre Mapurunga
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