O México se prepara para uma nova era política liderada por Andrés Manuel López Obrador, que, em suas primeiras horas como presidente eleito, ontem, começou a preparar o terreno da relação vital com os Estados Unidos — seu complicado vizinho do norte.
López Obrador alcançou uma vitória contundente nas eleições gerais de domingo, 1º, que levaram a esquerda ao poder na segunda economia latino-americana. E, menos de 24 horas depois, em uma conversa de 30 minutos por telefone com Donald Trump, propôs ao presidente americano trabalhar para “reduzir a migração e melhorar a segurança”.
“Sou muito consciente da minha responsabilidade histórica”, disse o novo presidente, de 64 anos, diante de dezenas de milhares de simpatizantes que o ovacionaram na noite de domingo.
Uma das maiores dúvidas sobre a futura gestão diz respeito à relação do presidente com Trump e, sobretudo, como dois modelos tão antagônicos conviverão dos dois lados do rio Bravo, em temas vitais como a migração e as negociações de um renovado Tratado de Livre-Comércio (Nafta).
“Propus a ele explorar um acordo integral; de projetos de desenvolvimento que gerem empregos no México e, com isso, reduzam a migração e melhorem a segurança”, escreveu López Obrador, no Twitter, sobre a conversa com Trump.
Pouco antes, o norte-americano previu no Salão Oval que “a relação vai ser muito boa”. “Tivemos uma ótima conversa (...) Acho que vai nos ajudar com a fronteira”, acrescentou, após meses de uma tensa relação com os vizinhos do sul pela dura posição do governo norte-americano com os migrantes em situação ilegal e contra o livre-comércio.
A vitória do mexicano provocou reações de líderes de todo o mundo. “Meus cumprimentos a @lopezobrador_ por sua vitória na eleição presidencial no México. A amizade entre o Brasil e o México é muito forte e antiga. Reafirmo nossa plena disposição para trabalhar em favor de aproximação ainda maior entre nossos países”, afirmou no Twitter o presidente Michel Temer.
Em ambicioso projeto de nação para 2018-2024, que começará na posse, no dia 1º de dezembro, López Obrador pretende resgatar o campo, revisar milionários contratos derivados da reforma energética, adotar um governo “austero, sem luxos ou privilégios”, e reduzir os salários dos altos funcionários públicos em até 50%. Tudo para estimular programas sociais e reduzir a pobreza no México, que afeta mais de 53 milhões de pessoas, incluindo as mais de sete milhões que vivem na pobreza extrema.
Muitos mexicanos e analistas, porém, criticam a falta de propostas concretas. “O principal desafio genérico de López Obrador é cumprir o que ofereceu, e ofereceu uma utopia (...) Não vai conseguir fazer milagres”, disse o historiador mexicano José Antonio Crespo.
AFP