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Peregrinos: é pelo caminho que eles vão
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Peregrinos: é pelo caminho que eles vão

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No passado não havia ajuda ou organização nenhuma. Os milhares de peregrinos vinham por conta e risco. Os de mais posse traziam um burro carregado de tudo o que se precisa para tantos dias assim, na estrada. Levas dormiam onde calhasse: debaixo de uma árvore ou no palheiro de um quintal de alguma alma caridosa. Aliás, até pouco tempo, eram os moradores que acolhiam os que podiam, ajudando como dava, partilhando o pão e a água nos caminhos até Fátima. Mas hoje tudo isso mudou.


Organizações como os Paramédicos de Catástrofe Internacional hoje trabalham em parceria com outros grupos, como a Ordem de Malta de Portugal. Na estrada, mas em pontos diferentes dos paramédicos, os voluntários da Ordem de Malta caminham com os peregrinos, diz o presidente Manuel Alves. Significa dizer que, à medida que o grosso da multidão passa, eles desmontam e avançam quilômetros à frente, cada um dos 20 postos com suas infinidades de tendas. Estes verdadeiros acampamentos militares acompanham o ritmo do peregrino, dependendo do estado físico e psicológico com que passam nos postos, diz Alves.


A ideia é não deixar vazios. Por onde passam, os peregrinos encontram apoio logístico. Mas, o desafio é de ainda tirar as colunas de caminhantes das beiras das estradas, onde há circulação de carros, e guiá-los para vias secundárias ou pequenas rotas. O problema é que muitos preferem as estruturas de banheiros e restaurantes oferecidas nas autoestradas. Por isso, vez em quando, vê-se nos jornais notícias de atropelamentos de peregrinos.


Muita gente vem só, mas é adotada por grupos mais experientes. Isso ajuda a saber onde dormir e comer. Pelo caminho, a peregrinação ajuda a fazer novos amigos. De peregrino a peregrino, também através da simpatia geral da população que assiste das janelas, todos os anos, estas levas passarem à porta.


Pela estrada, os caminhantes têm seus momentos. Longos silêncios fazem parte da viagem a pé. Grande maioria traz peso na alma bem maior que o da mochila às costas, nos explicam quem já fez. Há também cânticos de missa, rosários, conversas, risos. Claro, todos querem chegar, finalmente, a Fátima. Beijar os pés da Senhora. E a gente entende, em meias frases, que não é pelo papa a caminhada deste ano de velhos peregrinos, estes já calejados.


É mesmo pelo caminho em si. Momentos de solidão e solidariedade, encontro consigo mesmo. Seja qual for o motivo, chegam ao Santuário estropiados, mas, parece, renovados depois do retiro itinerante do mundo e felizes com eles mesmos por terem suportado o desafio físico. (AA)


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