Enquanto a França, maior potência agrícola europeia, não está preparada no momento para ratificar o acordo comercial assinado na sexta-feira entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, o Brasil vai em busca de novas parcerias.
Sobre as negociações com o bloco europeu, a porta-voz do governo francês, Sibeth Ndiaye, disse ontem que o país vai observar com atenção. "Com base nesses detalhes, vamos decidir", declarou.
A França é um dos países mais reticentes ao acordo, porque teme os efeitos para seu influente setor agrícola, que pode ser afetado pela grande entrada de produtos sul-americanos.
"Nada do que está no acordo é surpresa aos Estados-membros da União Europeia", rebateu, porém, o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Ernesto Araújo, em Brasília.
O chanceler brasileiro disse que, como o texto final ainda passa por revisão jurídica, nenhum país signatário está pronto para ratificá-lo. O ministro demonstrou ainda incômodo com a postura dos europeus de colocar os compromissos ambientais como uma obrigação somente do Brasil.
Também ontem, o ministro do Meio Ambiente francês, François de Rugy, afirmou que o acordo Mercosul e União Europeia só será ratificado pela França se o Brasil respeitar seus compromissos, referindo-se ao combate ao desmatamento na Amazônia.
Segundo Araújo, há muitos méritos na política ambiental do Brasil "seja na Amazônia ou em outros biomas" e o País tem "total compromisso" contra o desmatamento. "Muitos países europeus têm uso de agrotóxico por hectare maior que o do Brasil".
Ante o impasse, o Brasil deve assinar mais dois acordos comerciais até o fim deste ano, com o Canadá, com os países europeus do EFTA (formado por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein), com Cingapura e com a Coreia do Sul.
O ministro afirmou que aumentou também o interesse do Japão para firmar um tratado com o bloco sul-americano. Já com a China, Araújo esclareceu que não há intenção de se avançar, por ora, num acordo comercial amplo.
O chanceler citou ainda o lançamento da "Parceria para a Prosperidade" com os Estados Unidos, o que ele classificou como uma "guarda-chuva" para a construção de acordos comerciais bilaterais. O Brasil decidiu se antecipar também ao Brexit e abrir uma frente de diálogo com o Reino Unido. (Agência Estado)