Ruanda lembrou neste domingo, 7, o início, há 25 anos, do genocídio que matou 800 mil pessoas, enquanto o país continua a lidar com as consequências duradouras dos assassinatos em massa. O presidente Paul Kagame e a primeira-dama Jeannette Kagame colocaram coroas de flores e acenderam uma chama no cemitério em massa de 250 mil vítimas, na capital do país, Kigali. Participaram da cerimônia líderes do Chade, Congo, Djibuti, Níger, Bélgica, Canadá, Etiópia, bem como a União Africana e a União Europeia.
"Vinte e cinco anos atrás, Ruanda caiu em uma vala profunda devido à má liderança. Hoje somos um país de esperança e uma nação elevada", disse Agnes Mutamba, 25, que nasceu durante o genocídio. "Hoje, o governo uniu todos os ruandeses como um povo com a mesma cultura e história e está acelerando a transformação econômica", disse Oliver Nduhungihere, ministro de Relações Exteriores de Ruanda.
O assassinato em massa da minoria tutsi foi desencadeado em 6 de abril de 1994, quando um avião que transportava o então presidente Juvenal Habyarimana foi abatido, matando o líder que, como a maioria dos ruandeses, era um hutu étnico. A minoria tutsi foi culpada por derrubar o avião, e bandos de extremistas hutus começaram a massacrar os tutsis, com apoio do Exército, da polícia e das milícias.
O governo de Kagame acusou anteriormente o governo liderado pelos hutus de 1994 de ser responsável por abater o avião e culpou o governo francês de ter sido cúmplice do regime hutu ao fechar os olhos ao genocídio. Na sexta-feira, 5, o presidente francês Emmanuel Macron ordenou um estudo do governo sobre o papel do país em Ruanda antes e durante o genocídio de 1994. Em uma breve declaração, Macron expressou neste domingo "solidariedade com o povo de Ruanda".
Kagame é elogiado por acabar com a violência e avançar no desenvolvimento econômico e na saúde, embora seja criticado por controle autoritário. Ele é considerado responsável por promover estabilidade, crescimento econômico e melhoria da saúde e educação. No entanto, os críticos de Kagame dizem que ele é intolerante às críticas e que seu governo é repressivo, prendendo líderes da oposição. Alguns oponentes afirmam que a reconciliação de Ruanda é forçada.
Um quarto de século após o genocídio, corpos de vítimas ainda estão sendo encontrados. No ano passado, autoridades descobriram sepulturas em massa que contendo 5.400 corpos de vítimas do genocídio. "Vinte e cinco anos depois, as vítimas e os sobreviventes devem permanecer no centro dos pensamentos de todos, mas também devemos fazer um balanço do progresso e da necessidade de garantir responsabilização para todos aqueles que dirigiram esses atos horríveis", disse a Human Rights Watch. (Agência Estado)
ATOS DE RECORDAÇÃO
Pelos próximos 100 dias, tempo que durou o massacre, estão previstos grupos de discussões e vigílias. O tema dos atos em memória é "Recordação, unidade e renovação" e, este ano, a ênfase é colocada na juventude, que não viveu o genocídio, mas ainda sofre as consequências. (AFP)