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O Brasil é uma grande encenação
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O Brasil é uma grande encenação

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Émerson Maranhão - jornalista do O POVO
 (Foto: O POVO)
Foto: O POVO Émerson Maranhão - jornalista do O POVO

Se a vida só possível reinventada, como disse Cecilia Meireles, o Brasil destes dias só é possível dramatizado. A semana que terminou como se vivêssemos em uma obra de Dias Gomes, pioneiro do realismo fantástico em nossa teledramaturgia, começou sob o comando de Sófocles, um dos pais da tragédia grega. Entre um e outro, passamos o tempo nos equilibrando como personagens à procura de um autor.

Apenas uma mente hábil em trazer verossimilhança a situações irreais, como Gomes, seria capaz de fabular que a titular de uma pasta com o nome de Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos carregasse a acusação de sequestrar da sua aldeia uma criança indígena de apenas seis anos de idade.

Mas não é só. As cenas vividas no plenário do Congresso, na eleição para a presidência do Senado, não fariam feio a um espetáculo que poderia se chamar "O Anti-Maquiavel", dado o amadorismo e a ausência mínima da intenção de disfarçar as terceiras e quartas intenções que as moveram.

Por fim, assistimos em praça pública a uma montagem grandiosa de "Antígona", uma das obras-primas de Sófocles. A saga da filha de Édipo que é proibida de enterrar o irmão e desafia a lei para fazê-lo é um clássico. E há alguns milhares de anos já condenava o extremismo, que recusava acordos e colocava em lados irreconciliáveis a lei dos homens, ainda que arbitrária, e a lei divina, ainda que não escrita.

Na ficção, Antígona não é bem sucedida e recebe como pena ser enterrada viva. Em seu simulacro na vida real, o ex-presidente Lula também não conseguiu enterrar o irmão. Talvez porque alguns acreditem que deva padecer da mesma condenação que Antígona.

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