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Jornalista Alberto Dines morre aos 86 anos
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Jornalista Alberto Dines morre aos 86 anos

| BRASIL | Fundador do Observatório da Imprensa e reconhecido pelo perfil crítico, o jornalista morreu em São Paulo
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O jornalista Alberto Dines morreu ontem, aos 86 anos, em São Paulo. Ele tinha sido internado há dez dias no Hospital Albert Einstein em decorrência de uma gripe, mas o quadro se agravou para uma pneumonia. A causa da morte não foi oficialmente informada. A carreira de Dines, de mais de seis décadas, foi marcada pela postura crítica ao regime militar e à própria mídia. 


O falecimento foi confirmado pelo site criado por ele em 1995, o Observatório da Imprensa, nas redes sociais. “Estamos preparando uma edição especial sobre o legado do mestre Dines a ser publicada em breve”, diz texto divulgado.
 

Dines nasceu em 19 de fevereiro de 1932, no Rio. Jornalista, professor universitário, biógrafo e escritor, teve destaque em vários veículos de comunicação. Começou a carreira no jornalismo em 1952 na revista A Cena Muda. Em 1957 trabalhou na revista Manchete. Dois anos depois foi diretor do segundo caderno do jornal Última Hora, de Samuel Wainer. No ano seguinte, dirigiu o jornal Diário da Noite, dos Diários Associados. Em 1962 virou editor-chefe do Jornal do Brasil, onde permaneceu até 1973.
 

No ano seguinte foi professor-visitante na Universidade de Colúmbia (EUA), de onde voltou para ser diretor da sucursal da Folha de S. Paulo, no Rio. Em 1980, deixou o jornal e passou a colaborar em O Pasquim.
 

Mudou-se para Lisboa em 1988, onde lançou a revista Exame, do Grupo Abril. Ainda em Lisboa criou o Observatório da Imprensa, entidade dedicada a avaliar a qualidade do jornalismo brasileiro. Dines retornou ao Brasil em 1994.
 

O presidente Michel Temer (MDB) lamentou a morte de Dines. “O jornalismo brasileiro perde um dos pilares da ética e do profissionalismo”, disse, no Twitter. Em nota, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) define Dines como “referência no jornalismo brasileiro”. “Nesse momento em que o jornalismo é cada vez mais necessário, a morte de Alberto Dines nos leva a refletir sobre a importância de uma imprensa livre e plural em nosso País”. (das agências)

 

ANÁLISE
 

Jornalismo essencialmente cidadão e humanista
 

Alberto Dines (1932-2018), autor do livro O Papel do Jornal e do Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br), é parte significativa do aprendizado sobre jornalismo — a qualquer tempo.
 

O pensamento e o fazer jornalísticos de Alberto Dines, da década de 1950, quando começou a reportar, até poucos dias atrás, antes da internação sem volta, unem gerações de repórteres no ofício de um jornalismo, essencialmente, humanista — como o próprio Dines definiu em entrevista ao O POVO (”Elogio à diferença”. 25/5/1996): “Um jorna lismo comprometido  com o cidadão e com a cidadania”.


Dines reformulou ideias e meios de se fazer jornal e jornalismo, atualizando e revigorando a comunicação com o tempo, o mundo e as pessoas, porque entendia que era preciso nascer sempre — assim na vida como no jornalismo. “O jornalismo está impregnado do espírito sequencial, de passagem, de prolongamento e continuidade. Nosso ofício, que começa e se esgota a cada fluxo, a cada novo dia, é o exercício da permanência, da duração. Por melhor ou pior que tenha sido a edição anterior, o que vale é a seguinte. E depois dela, a outra. É um nunca acabar, ou eterno renascer”, escreveu, no último janeiro, para o Jornal do Brasil (”Sempre JB”. 31/1/2018).


Alberto Dines nos deixa este espelho, para que vejamos o tempo, nosso envelhecer, nossas ousadias. E para que sigamos, firmes, no jornalismo humanista que atravessa um País varrido por fortes ventos. 

 

ANA MARY C. CAVALCANTE
anamary@opovo.com.br 

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