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Os entendimentos entre o governador Camilo Santana (PT) e o senador Eunício Oliveira (MDB) avançam e a resistência já não existe mesmo entre os membros do grupo do governador que se confrontaram de forma mais dura com o emedebista. Porém, o assunto terá de ser submetido à executiva nacional do PDT, maior partido da aliança que dá sustentação a Camilo. E, ao menos por enquanto, a direção nacional é contra o entendimento. “A gente está acusando, denunciando, como a gente vai estar junto (do MDB)?”, questionou na semana passada o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi. Confira entrevista com Ciro Gomes. (Carlos Holanda/Especial para O POVO)
O POVO – O senhor é a favor da aliança com Eunício Oliveira no Ceará?
Ciro Gomes – Acabamos de nos confrontar de forma muito dura, muito pesada, na frente do nosso povo, na eleição do governador Camilo Santana. De lá para cá, o que mudou? Mudou que o Eunício Oliveira assumiu uma posição de grande relevância, é o presidente do Senado, e, a partir desta posição, ele tem um potencial de atrapalhar muito o Estado, ou de ajudar. E os meus companheiros, o governador Camilo Santana e o Roberto Cláudio, têm a missão de bem governar o Ceará e bem governar Fortaleza. Eles me perguntaram e eu disse: olha, a tradição do Ceará é que, passou a eleição, nossas adversidades, nossas diferenças são, na tradição melhor do Ceará, postas de lado. E há uma tradição de convergência, de trabalho conjunto. Então vão lá, apresentem as agendas do Estado e o povo entenderá naturalmente. E é justo, por mais adversários que sejamos, que vocês reconheçam publicamente o êxito das empreitadas. Se ele (Eunício) ajudou, vocês dizem publicamente que ajudou. Isso vai ou não vai trazer uma naturalidade nesse entendimento sob o ponto de vista político-eleitoral? Hoje, eu não estou vendo isso.
OP – Mas, como caminha a relação com Eunício?
Ciro – Eu vejo que distensionou bastante. Não serei eu a criar um obstáculo. Porque aqui no Ceará eu sou um mero conselheiro. Minha missão foi preparar uma nova geração. Tenho muita alegria de ter ajudado a criar uma nova geração, que para mim está fazendo um belíssimo trabalho. Eu conheço o desastre que está acontecendo pelo Brasil afora. E o Roberto Cláudio é o melhor prefeito de capital do Brasil. O Camilo Santana se credencia como um dos melhores governadores do País. O que não quer dizer que não tenhamos problemas graves. Eu próprio sou crítico de algumas questões, desde meu irmão governador. Para mim, acima de tudo está o interesse do povo do Ceará. Se isso vai ou não acontecer (a aliança), a última palavra será deles.
OP – Como vocês vão lidar com a oposição do PDT nacional à aliança?
Ciro – Nós do PDT temos tradição de respeitar a autonomia das instâncias locais. Entretanto, nós aprovamos, para valer para o País inteiro, uma resolução em que, se a coligação tiver de se explicar, tiver contradição, tipo essa, o assunto tem de ser levado para a executiva nacional para exame e deliberação. Portanto, será um diálogo entre a sessão local, que é presidida pelo deputado André Figueiredo, e o diretório nacional.
OP – O senhor terá o apoio de Camilo na eleição para presidente?
Ciro – O Camilo é do PT. É muito natural que o Camilo apoie o candidato do seu partido. Nós nunca exigimos dele nada de diferente. Evidente que eu sei que eu tenho no Governo do Ceará um grande amigo, um companheiro, uma pessoa por quem eu tenho respeito e admiração, estima. Mas eu não vou constranger o Camilo obrigando-o a uma contradição dessa natureza. Aqui no Ceará, minha candidatura tem de pertencer ao conjunto da população. Porque não é um voto a mais ou a menos. É o Ceará, meu lugar, meu Estado, minha comunidade. Depois do que aconteceu com o Lula, que por isso eu creio que não será candidato, minha responsabilidade cresceu muito mais. Não vou enfrentar essa violenta resistência que eu vou atravessar no Brasil sem unir o povo do Ceará.