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Escola sem celular?
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Escola sem celular?

| Educação | Lei francesa proíbe celulares em escolas como forma de promover uma "desintoxicação". Por aqui, a discussão é sobre os usos pedagógicos do aparelho
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Tipo Notícia
Denominando de "medida de desintoxicação", a França aprovou uma lei que proíbe que alunos até os 15 anos, ou seja , de ensino fundamental, usem celulares e aparelhos similares na escola. A legislação, promessa de campanha de Emmanuel Macron, passou em votação no parlamento francês ainda em julho e escolas já começam a receber esta semana a pressão do Ministério da Educação para pôr em prática. No Ceará, educadores apontam que a mediação do uso por professores se apresenta como alternativa mais viável diante de uma geração que nasceu na era digital.

[SAIBAMAIS] 

Indicando que banir o uso em sala de aula é "ir de encontro a uma cultura digital estabelecida", a professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC) Antônia Lis de Maria Martins Torres acredita que o mais aconselhável é que se estabeleça um acordo entre alunos e educadores mesmo diante do fator de distração que os aparelhos possam ser.

 

"O que a gente pode fazer é um acordo didático com os alunos, entendendo, também, que nos campos da educação infantil e do fundamental I (até o 5º ano) é preciso ter essa conversa paralela com os pais. O celular pode ser, inclusive, utilizado pelo pais como forma de trabalhar a noção de limites". Indicar horários, permitir usos em espaços de tempo e regular o consumo de forma acordada são os caminhos apontados.

 

É o que a coordenadora pedagógica dos Ensinos Fundamental e Médio do Colégio Darwin, Antônia Sousa, diz estar sendo posto em prática na instituição. "É fato que essa tecnologia é um grande distrativo na sala de aula, mas é fato também que temos uma geração com outras necessidades, outros comportamentos. É muito mais sensato que a escola se posicione como postura de negociação, expondo benefícios e malefícios, do que proibir. Isso não traz resultados".

 

Ela relembra que há cerca de quatro anos um caixote reunia todos os aparelhos e não permitia que alunos durante a aula tivessem acesso a eles.  

 

"Já saímos dessa fase, não é pedagogicamente correto. E hoje nós orientamos, conversamos". Permitir que alunos usem o celular por um curto período para se atualizarem depois de 30 minutos de aula também tem sido uma saída orientada pela coordenação. Antônia ainda enumera os usos como quiz de conhecimentos matemáticos utilizando as redes e vídeos produzidos pelos alunos com linguagem e expressão próprios para explicar temas por eles escolhidos.

 

Pautar nas escolas e entre professores a utilização dos aparelhos para afins pedagógicos pode potencializar as utilidades e sedimentar o aprendizado em uma geração acostumada a consumir informação pelas telas de celular. No entanto, isso ainda é desafio que passa por políticas públicas e por formação de professores, indica Antônia Lis Torres.

 

"A primeira coisa é fazer o investimento na formação de professores, porque temos uma geração que já nasceu com esses aparelhos sendo ensinada por uma geração que saiu do analógico para o digital. É uma questão de raciocínio lógico que a criança tem muito mais leve do que nós. Por que não usar isso a favor da aprendizagem? E por isso é preciso pensar em políticas públicas de informatização que pensem a educação e as disciplinas nesse contexto", aponta.

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