Em entrevista ao programa Futebol do Povo no começo de agosto, o presidente do Ceará, Robinson de Castro, admitiu que o número de torcedores oficiais do clube ainda está "longe do ideal". Administrado pela Sou Mais, empresa terceirizada, o plano de sócios existe desde 2008 no modelo atual, e já atingiu picos de mais de 20 mil associados, segundo dados da diretoria alvinegra. Ao analisar os boletins financeiros dos primeiros nove jogos do Vovô como mandante no Brasileirão, a queixa de Robinson faz sentido em alguns pontos.
Em comparação às primeiras nove rodadas do ano passado, a proporção de torcedores oficiais que integram o público pagante do Ceará na Série A (excluindo o número de torcedores do Fortaleza no Clássico-Rei) teve leve queda de 4 pontos percentuais, indo de 48,77% para 44,5%.
Em que se pese que os públicos contra Santos-SP e Flamengo-RJ, os dois maiores do futebol cearense em 2019, colaboram para diminuir essa porcentagem. Mas em 2018, a média de sócios em todos os jogos do Ceará em casa foi de 10.499. Neste ano, o número até agora é menor: 10.393 sócios por jogo. Segundo o diretor do marketing do clube, Lavor Neto, o Vovô possui entre 19.500 e 20 mil adimplentes — ou seja, mais da metade do quadro associativo comparece a cada partida, em média.
A torcida alvinegra, porém, não vem fazendo feio nas arquibancadas neste Brasileirão. O Vovô é o dono da sexta maior média de público pagante do Campeonato, colocando 27.534 torcedores por jogo, superando os números de times como Bahia, Internacional-RS, Fluminense-RJ e Vasco-RJ.
A média de 10.393 associados, inclusive, supera a de pagantes de Avaí-SC e Chapecoense-SC. Além disso, no jogo contra o Flamengo, pela 16ª rodada do Brasileirão, o Alvinegro bateu o próprio recorde de associados em uma única partida, com 16.492 torcedores oficiais comparecendo ao confronto.
Mas o que o explica o fato de o Ceará, que em 2019 tem o maior orçamento de sua história e está no segundo ano consecutivo na elite do futebol brasileiro, não apresentar crescimento significativo na presença de sócios-torcedores por jogo, e sim oscilação negativa? "Acho que a situação econômica realmente atinge a todos, e quando a gente tem um torcedor notoriamente popular, às vezes isso pode contribuir para a diferença", explica Lavor Neto.
Otimista, Lavor prefere enxergar o copo "meio cheio", e afirma que a manutenção da média de sócios é sinal de "fidelização" do torcedor: "Temos duas maneiras de olhar essa história, que pode ser chamada de estagnação, mas eu prefiro chamar de fidelização. São torcedores que não abandonam o time, que estão ali independentemente do resultado do clube", defende.
De fato, a fidelidade dos associados é muito importante para preencher as arquibancadas do Castelão, sobretudo nos jogos menos atrativos. Contra CSA-AL, Bahia e Atlético-MG, o Ceará teve seus menores públicos neste Brasileirão, porém mais da metade dos presentes (54,53%) passaram suas carteirinhas nas catracas do estádio.
Um quadro extenso de torcedores oficiais é essencial para a saúde financeira de clubes de massa. Segundo o diretor financeiro do Ceará, João Paulo Silva, essa fonte de receita representa 10% da previsão orçamentária do Vovô para este ano, que gira em torno de R$ 80 milhões. Mensalmente, os sócios contribuem com 15% do dinheiro que entra nos cofres alvinegros.
Em conversa com O POVO, João Paulo afirmou que o clube trabalha com projeção de 25 mil associados até o final do ano. Caso a meta seja batida, a contribuição mensal deve subir para 25%.
Mesmo com uma média abaixo do que poderia ser, a tendência é que a presença dos sócios por jogo aumente no segundo turno. Nas últimas semanas, o marketing do Vovô realizou feirões em shoppings de Fortaleza, nos quais os torcedores poderiam se associar a qualquer plano. Segundo Lavor, as ações geraram entre 4 e 5 mil novos sócios para o clube, sobretudo do plano "Time do Povo", considerado o mais acessível. A expectativa é de que até o fim do ano, o copo "meio cheio" será preenchido de vez.
O POVO procurou a Sou Mais, mas a empresa afirmou que, por força contratual, não pode se manifestar sobre o assunto
Este conteúdo exclusivo para assinantes está temporariamente disponível a todos os leitores